sábado, 18 de dezembro de 2010

NÚRIA - personagem criada por todos

em brainstorm na aula


NÚRIA

Mulher.
Taxista.
Atraente
Pulso Grosso.
Ficou, após o divórcio, com 100% da empresa de Táxis.
Conduz muito mal.
Aprecia o choque na cara dos clientes.
Começou a treinar uma arte marcial.
Tem um Magnum 44 debaixo do banco.
O marido é porteiro de discotecas, desde o divórcio. Era violento e isso levou à separação.
Núria tem uma luva preta na mão direita, a tapar uma queimadura provocada pelo ex-marido.
Quando saca da arma, tira a luva!

sketch: praga de coelhinhos da páscoa (Leonor Mac)


01 – HORTA HUMILDE NO CAMPO MANHÃ

Plano panorâmico lento da horta, vê-se uma capoeira ao fundo, uma cerca em mau estado, galinhas e patos, e um cão preso a uma corrente.

VOZ OFF
Depois do aparecimento dos pesticidas, por volta dos anos 50, as pragas passaram a ser coisa do passado. Mas hoje, os desiquilíbrios dos ecossistemas e o aquecimento global tem feito ressurgir este problema. Novas medidas de prevenção e de combate são um desafio à criatividade e engenho de todos nós. Mas nem sempre as soluções são fáceis ou agradáveis. Para problemas graves, às vezes são necessárias medidas extremas.

Corta para a imagem de um agricultor de meia-idade, que observa a sua horta enquanto se dirige para a capoeira.

VOZ OFF
Nesta localidade de Sarilhos Pequenos, a poucos quilómetros de Lisboa, este homem foi confrontado com um problema inédito, mas que se está a alastrar pelo país a uma velocidade assustadora... (voz solene) A praga dos Coelhos da Páscoa.

Corta para o entrevistador, um homem novo, com o sobrolho franzido em sinal de compreensão e preocupação.

ENTREVISTADOR
Então como é que se apercebeu que tinha Coelhos da Páscoa aqui na sua horta?

Corta para o agricultor que encolhe os ombros em desalento.

AGRICULTOR
Isto é uma chatice. A gente acorda, vai à capoeira e vê os ovos todos pintados às cores... A capoeira fica cheia de lacinhos em todo o lado – a gente até se riu porque achava que era uma brincadeira do meu cunhado! Mas depois, era todos os dias e as galinhas ficavam todas desalvoraçadas!

ENTREVISTADOR
E eles também destruíram a sua horta?

Corta para o agricultor que tem uma expressão de grande cansaço e desalento.

AGRICULTOR
Mas não é isso. Não vê que não é so pintarem os ovos? Nem os laços? Dá muito trabalho andar sempre a desmontar aquele circo todo! Mas o pior é que os bichos escondem uma data de ovos todos os dias. A gente anda por aí... e é só pisar ovos em todo o lado! Eu tenho uma neta pequena e isto é um perigo! A culpa é do novo super-mercado, mais as promoções da Páscoa... Foi só trazer coelhos para aqui...

CORTA PARA


02 – INTERIOR DE UMA CARRINHA DE CAIXA ABERTA MANHÃ

Um homem conduz a carrinha, vestido com impermeável, boné e óculos amarelos, como os atiradores furtivos.

VOZ OFF
Gerson Silva faz parte da equipa de controle da praga de Coelhos da Páscoa, recentemente instituída pelo Governo Português. Ele está preparado para todas as situações, estando equipado com dispositivos de visão nocturna, armas de vários calibres, bolachas super calóricas e um pente.

Gerson tem uma expressão séria e um aspecto muito profissional. Estaciona a carrinha e sai, deixando ver as calças com muitos bolsos laterais, e umas botas de caminhada. Dirige-se para a capoeira com o agricultor

VOZ OFF
Gerson vai agora ver os estragos, para tentar estimar quantos Coelhos da Páscoa andam por esta zona.

CORTA PARA


03 – INTERIOR DA CAPOEIRA MANHÃ

A capoeira tem laços brancos, rosa e azul bebé, gema de ovo no chão, e muitos ovos pintados de todas as cores. Gerson e o agricultor estão frente a frente. O agricultor olha desesperado, Gerson observa a situação fria e detalhadamente.

CORTA PARA


04 – EXTERIOR DA CARRINHA DE GERSON MANHÃ

Gerson passa algumas das armas que tem guardadas atrás do banco, para a caixa aberta. Enquanto issi, vai falando na direcção da câmara.

GERSON
(com sotaque brasileiro) A mim me parece que toda uma comunidade de Coelhos de Páscoa se instalou aqui. É uma situação muito difícil! E para mim isso é muito complicado! A gente nunca gosta de ter que fazer isso, não é?

Gerson entra dentro do carro e põe-se em marcha.

CORTA PARA


05 – INTERIOR DA CARRINHA DE GERSON NOITE

A carrinha com Gerson ao volante segue por caminhos de terra-batida, e com imagens de visão nocturna vão se vendo Coelhos da Páscoa – de tamanho humano – que se escondem atrás de árvores quando sentem os faróis da carrinha. Há laços espalhados no chão, e alguns ovos partidos.

GERSON
Não tem jeito não... Vamos mesmo ter que intrevir.

Passa um Coelho da Páscoa a correr escapando por pouco a uma colisão com a carrinha.

GERSON
(com uma mão em cima do boné que tem na cabeça) Olha! Olha! Você viu o safadinho?!

CORTA PARA


06 – EXTERIOR DA CARRINHA DE GERSON

Gerson encosta o carro, sai e pega numa arma que tem na caixa aberta da carrinha. Fica muito quieto por alguns momentos, e depois ouve-se o barulho de uma metralhadora. A rajada dura 10 segundos, seguida por uma nova rajada de igual duração. Gerson faz um compasso de espera com a cabeça baixa. Depois tira lentamente o boné, aperta as mão à frente do peito como se rezasse, levanta a cabeça e vêm-se lágrimas a escorrer-lhe pela cara. Enquanto cai de joelhos no chão, levanta as mãos para o céu.

GERSON
(grita a plenos pulmões) MEU DEUS ME PERDOA! (soluça e fecha os olhos com muita força) Eles são tão fofinhos... tão fofinhos...

Baixa a cabeça e chora compulsivamente. Quando se recompõe, Gerson levanta-se, limpa as lágrimas com as costas da mão e entra dentro da carrinha. Ele arranca e vê-se a carrinha a ir embora pelo caminho de terra batida. O pó que se levanta tapa progressivamente a carrinha a sair do enquadramento e o agricultor que sorri e lhe acena da porta de casa, cândido, enquanto segura na outra mãe a cabeça degolada do coelhinho.

sketch: dói não ter piada (Pitta)



NOTA: O espaço é um consultório médico

MÉDICO
Bom dia, então diga lá qual é que é o seu problema?
O indivíduo está com um ar abatido.

CLIENTE
Ó sr. Doutor é muito simples...

MÉDICO
Então?

CLIENTE
Olhe eu até tenho vergonha de dizer isto mas aqui vai... eu não tenho piada... mas é que não tenho piadinha mesmo nenhuma.
O médico olha com um ar sério.
MÉDICO
Percebo. Fale-me dos sintomas.

CLIENTE
Bom, eu sinto um grande incómodo, isto afecta-me os nervos e depois também acho que me desregula os intestinos.

MÉDICO
Estou a ver... e já tentou mudar alguns hábitos de vida, mudar de alimentação?

CLIENTE
Bom o Sr. Doutor sabe como é que isto é hoje em dia, uma pessoa vai para a internet e lê muita coisa e mesmo na televisão... eu fui tentanto comer pratos com piada... pescadinhas de rabo na boca... pezinhos de coentrada... mas a coisa não melhorou.


MÉDICO
E rebolar-se no chão? Já experimentou? Não lhe dá vontade de rir?
O médico levanta-se e aproxima-se do indivíduo.
CLIENTE
Não isso não. Fui a um curso de yoga do riso... mas só teve efeito naquele fim de semana quando voltei ao meu dia a dia o efeito passou

O médico ajuda o cliente a levantar-se primeiro e depois a deitar-se no chão para se rebolar.

MÉDICO
Isto é diferente, vai ver!

CLIENTE
Estou a ir bem doutor?
O médico ajuda o cliente a rebolar.

MÉDICO
Confie homem confie e rebole!
O cliente ri de forma pouco convincente.

MÉDICO
Levante-se lá. Você precisa praticar isto em casa e vai ver que com o tempo isto resulta.
O médico começa a escrever a receita.

CLIENTE
Acha que sim sr. Doutor?

MÉDICO
Bom o seu caso é sério... mas tem tratamento.

CLIENTE
Diga Sr. Doutor eu faço o que for preciso.


MÉDICO
Eu estou a aqui a receitar-lhe 2 sessões como esta por dia, uma de manhã e outra à tarde quando chegar do trabalho, e antes de deitar peça à sua mulher para lhe fazer cócegas nos pés pelo menos 5 minutos em cada pé. Para aqueles em que se sentir pior ou se não vir grandes evoluções acrescente uma ida diária à Assembleia da República... se aqueles palhaços não o fizerem rir, ninguém o fará.

sketch: 3 sacerdotes e um agnóstico (Pedro Fontes)

Cenário: Programa de televisão estilo prós e contras, com 4 mesas, e apresentadora ao centro. Em cada mesa há um representante de uma grande religião, e noutra mesa à parte está um agnóstico. Cada mesa tem o símbolo de uma religião virado para as câmaras. O padre tem uma cruz, o rabi uma cruz de david, o Imã tem um quarto crescente, e o agnóstico tem um ponto de interrogação. Todos apresentam-se nos seus trajes cerimoniais. O Agnóstico está de fato, e tem uma cruz suástica na testa careca.)

APRESENTADORA: Boa noite a todos, bem vindos ao Debate da Nação. Esta semana abordaremos, com religiosos de todas as confissões, as questões religiosas que REALMENTE interessam ao povo. Segundo a nossa sondagem elaborada pela EUROSONDAGEM (e de que a Universidade Católica se desvinculou por conflito de interesses...) as pessoas apenas querem realmente saber de 3 coisas quando se juntam a uma religião:COMIDA, SEXO, e VIDA APÓS A MORTE (os padres mostram-se muito relaxados, assentindo com a cabeça, nada surpreendidos).

Convidámos pessoas de todos os campos. Da Igreja Católica, temos Januário Virgílio, cónego de Freixo-de-Espada à Cinta (Januário acende um cigarro, sem olhar para a câmara), da Fé Islâmica, temos Muhammad Akim (Muhammad mostra-se concentrado, disposto ao confronto, com um ar tenso e profissional), da parte do Judaísmo, temos Immanuel Silverstein (Immanuel levanta as mãos e agita a farta cabeleira encaracolada, visivelmente satisfeito de estar na televisão). Como Agnóstico, temos Sansão Elias (Sansão sorri de forma calorosa e educada). Lamentamos que a Religião Budista considere que "debate" é uma palavra violenta.

Passemos ao primeiro tema do nosso debate - COMIDA. Que têm os agnósticos a dizer sobre restrições alimentares ordenadas por Deus?

SANSÃO: Olhe, eu acredito numa entidade superior que se dedica apenas a manter o Universo equilibrado sem se preocupar com cada um de nós individualmente. À semelhança, aliás, do Mário Soares.

APRESENTADORA: Muito bem, e a Igreja Católica?

JANUÁRIO (dá uma passa....): Olhe... a Igreja tem muito poucas restrições. Comemos porco, comemos todos os meses do ano... Uma das cruzes que trago ao peito é do bypass (sorri com uma expressão de tarado).

IMMANUEL (toma a palavra, contentíssimo,e com um sotaque arrastado, carregado nos erres e cantado) É verdade...mas olhe que o Antigo Testamento é sábio. Não existe palavra em hebraico para "SALMONELA". O povo escolhido foi protegido de doenças. Não há porco, não há salmonela, não há palavra!

SANSÃO (sereno, educado, e claramente a tentar fazer um argumento sério): É como o Holocausto. Se não existissem judeus, o Holocausto não teria existido. (Immanuel fica confuso quanto a se se ofende ou não, o apresentador está em choque. Há três segundos de silêncio)

MUHAMMAD: (Sério) Não sei a que Holocausto se refere (Olha para os interlocutores com um ar de "so sue me"). O Ramadão, por outro lado, já conheço bem. Serve para limpar a alma, de maneira a não vivermos como infiéis, vivendo como alarves. Uma vez que o nosso profeta não precisa de morrer só para exibir os seus super-poderes, não temos qualquer problema em deixar os fiéis comer à vontade às sextas-feiras (levanta os olhos com ar inteligente e inquisitivo para Januário).


JANUÁRIO: (Dito a baixar a mão com o cigarro de cima para baixo, como que a dar pouca importância) Isso do jejum à sexta-feira era para as beatas pouparem uns trocos e darem mais à colecta no domingo. Além disso, eu vou dando um jeitinho aos fiéis...Digo que podem comer peixe e a malta até lagosta manda abaixo. É uma maravilha. Sempre passei as sextas-feiras santas de luto, mas com muito boa mesa... E com cada pomada... As velhas andam secas como fruta de cabinda, mas cozinham que é uma categoria (ilustra com o indicador e o polegar juntos em círculo, acrescentando solenidade).

APRESENTADORA: Immanuel e Muhammad, a proibição de comer porco parece-lhe justificada?

MUHAMMAD: (Sério) É importante, mas não é tão importante como a senhora pôr um véu. (Novo ar de "so sue me". Apresentadora mostra-se triste). Sinceramente, trate disso. Não vejo outra maneira de melhorar.

IMMANUEL (todo feliz): Nada que um basalto bem colocado não cure, não é, colega?

APRESENTADORA (aflita, troca de assunto rapidamente): Identificam-se com os vossos colegas hindus, que consideram a vaca um animal sagrado e não a comem?

IMMANUEL (sempre felicíssimo): Claro que não. (Com veemência) Isso é estúpido. As vacas valem muito mais dinheiro do que os porcos.

APRESENTADORA (já com falta de ar, olha para a câmara com desespero e muda de matéria): E o que dizer quanto ao Sexo?

JANUÁRIO: (Sério, pondo-se em sentido) Apenas para reprodução.

MUHAMMAD: Exactamente. Não se deve fazer por motivos recreativos. Sobretudo os actos derivados...

JANUÁRIO: Dançar muito perto, esfreganços, sentir as nádegas, gravatas, castanholas, boxe, felácio, sexo oral recíproco e simultâneo...

IMMANUEL: Por trás também é um sacrilégio. Muito menos com mulheres exóticas e experientes que cobrem caro.

JANUÁRIO: (Entusiasma-se) Sim! (Quase em aparte) De perfume doce e cabelo comprido... (desenha as costas de uma mulher com a mão, imitando o cabelo)

MUHAMMAD: E nada de posições estranhas. O Senegalês voador, o Domingo à tarde na prisão, o berbequim da Transilvânia, o Balamento e a Guerrilha Vermelha do Sul são especialmente profanos.

IMMANUEL: (Solene, numa expressão que ainda não lhe conhecíamos, de olhos arregalados) A Guerrilha Vermelha do Sul...

JANUÁRIO: A Guerrilha Vermelha do Sul nem os casados deixo fazer. Aquela coisa com os dedos e a língua ao mesmo tempo é contra a Lei de Deus. Além disso, parece que só as asiáticas conseguem fazer aquele rodopio no final.

MUHAMMAD: E o gosto que fica na boca depois é profundamente pecaminoso...

IMMANUEL: Não há como tirar aquele gosto da boca...

JANUÁRIO: Só com Bacon

Immanuel aponta num caderninho, que guarda rapidamente.

SANSÃO: Olhem, eu acredito numa entidade superior que se dedica apenas a manter o Universo equilibrado sem se preocupar com cada um de nós individualmente. À semelhança, aliás, do Mário Soares.

APRESENTADOR: E o que têm a dizer sobre a vida após a morte? Para onde acham que vão os vossos colegas de programa, depois de deixarem este Mundo?

JANUÁRIO (com desportivismo): Inferno. Lamento, mas a Bíblia é clara...não podem andar aí a negar o filho do Senhor e a se gabar disso... E o senhor que acha que Deus não se preocupa com ele individualmente verá que isso é completamente mentira: terá uma salinha só para si no Inferno. Um demónio, chagas, pestilência, grilhetas, mutilações, violações, fezes, vómitos, morcegos, serpentes, guilhotinas, golpes nos genitais, banhos de água a ferver, dentadas, fome, doença, cansaço, televendas e música dos Delfins... Todas as prerrogativas de uma alma penada. Sem ofensa. (Todos se mostram ponderados, assentindo, reconhecendo legitimidade ao argumento)

IMMANUEL (todo contente): Nada disso! Eu também acho que todos irão para o Inferno, (aponta para os visados) por adorar um falso salvador do Mundo, ou por se atreverem a achar que ele não vem aí. E por comer (olha para a distância, com desejo e languidez, esgueirando os olhos e pausando ligeiramente entre cada palavra) bacon,chouriço, morcela, fiambre, costeletas, ombro, orelha, lombo, chispe, barriga, pá, cabaço e secretos do porco (olha para cima) Um animal divino...cozido, grelhado, frito, estufado, no forno...os leitões com a sua pele estaladiça...(perde-se)


MUHAMMAD: Como todos os infiéis, vós sofrereis as agonias reservadas às almas mais impuras do Universo. Será como me fizeram os senhores de luvas brancas antes de entrar no avião (mostra revolta e entusiasmo crescentes). Uma vez, e outra vez, e outra vez novamente. VEzes sem conta. Luvas brancas e o vosso rabo infiel, friccionando-se dia após dia, durante toda a eternidade! (Olha para o ar e dá um grito Muhajedin): ALELELLLELELELLELELELELLLELE.(Compõe-se) Com todo o respeito.

SANSÃO: Olhem, eu, como acredito numa entidade superior que se dedica apenas a manter o Universo equilibrado sem se preocupar com cada um de nós individualmente, acho que passamos para um estado de inconsciência semelhante àquele em que estávamos antes de nascer.

APRESENTADOR (jocosamente): À semelhança, aliás, de Mário Soares, não é?

SANSÃO (sério): Não. Esse vai para o Inferno.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

sketchs populares



belo trabalho da dupla Joana Galhardas / Rita de La Rochezoire


Nestes Sketches, não há diálogos, ou então são muito curtos. O provérbio aparecerá no fim, em estilo “cinema mudo” (Fundo preto, legendas brancas). Objectivo: tirar o sentido metafórico aos provérbios:


Situação/Provérbio 1

“Dá Deus nozes a quem não tem dentes”

Um mendigo, sentado no chão, chocalha um copo com moedas. Um homem aproxima-se e coloca uns cêntimos. O homem afasta-se e, mais à frente, senta-se num banco de um jardim. Enquanto pensa sobre a vida, com um olhar vazio, surge outro homem “vestido” de Deus e dá-lhe para a mão meia dúzia de nozes. Deus vai-se embora e o homem esboça um sorriso rasgado, sem dentes.

Situação/Provérbio 2

“Quem vai ao mar perde o lugar”

Numa praia deserta, um homem lê um livro, numa daquelas cadeirinhas (de velho). Às tantas levanta-se e vai dar um mergulho. Enquanto isto, chega um outro homem que se senta no seu lugar e continua a ler o seu livro.

Situação/Provérbio 3

“Para bom entendedor, meia palavra basta”

Dois carpinteiros, martelam qualquer coisa, quando um, sem querer, apanha o seu dedo e solta um “DASS!”


Entra um cliente numa farmácia, dirige-se ao balcão e diz para o farmacêutico (com uma voz entupida): “Ia ualuer oisa ara a ôr de abeça!”. O farmacêutico sorri e acena – como se tivesse entendido o pedido –, sai de cena e volta com uma embalagem de comprimidos. O cliente paga e agradece sorrindo.

Situação/Provérbio 4

“Quem tem medo compra um cão”

A acção passa-se numa loja de animais e entra um daqueles tipos género porteiro de discoteca. Um “bisonte” com ar paranóico. Na caixa está uma velhota com cara de má. Apavorado, o homem olha para todo o lado, como se estivesse a ser seguido, enquanto tenta escolher um animal. Quando chega à caixa, leva um chiwawa (ou outro cão de porte pequeno) debaixo do braço.

Situação/Provérbio 5

“Entre marido e mulher não metas a colher”

Num restaurante, um casal com aspecto muito apaixonado, está sentado frente a frente, de mãos dadas, quando chega um empregado com a carta das sobremesas e coloca uma colher na frente do prato de cada um. O empregado vira costas e a mulher, muito indignada, pega na colher e grita: “Olhe, desculpe, o que é isto???”


Situação/Provérbio 6

“O melão e a mulher conhecem-se pelo rabo”

À porta de um mini mercado, um homem escolhe melões. Às tantas dobra-se para vê-los mais de perto e apalpa-os. [plano mais fechado da acção; Ao lado, ao mesmo nível da bancada, está um rabo de senhora] O Homem olha com um ar satisfeito para o rabo e diz: “Amélia!”. [mantém-se o plano a esse nível, das cinturas para baixo] O homem endireita-se e ouve-se “Então, estás boa? Há quanto tempo…”.

Situação/Provérbio 7

“Os homens não se medem aos palmos”

Uma mulher está sentada numa esplanada a ler um jornal. Entretanto repara que a uns metros está um homem de fato branco, olhando para si, a fumar um charuto, encostado a uma árvore. [Planos: Close ups dos olhos, charuto e boca,] Ela vai sorrindo para ele ao mesmo tempo que esconde a cara atrás do jornal. Quando volta a olhar, ele já não está lá. Ela levanta-se à sua procura e repara que, o dito homem (anão), está junto de si, com ar engatatão.

Exercício CENA - Pedro Vintém


01 – INT. BAR NOITE


Numa noite seca de verão, entra num bar um homem dos seus 30 anos vestindo uns calções de futebol do Benfica, pullover da Nike e tennis com meias até ao joelho. Ele vem transpirado, a arrastar os pés e a olhar para o chão. Senta-se ao balcão e pede um gin tónico.
O barman, um homem de 50 anos e com um ar bastante simpático, que já tinha pensado não deixá-lo entrar devido ao seu vestuário desadequado, serviu-lhe a bebida porque o bar estava vazio e apetecia-lhe alguma conversa para animar a sua noite.
.
BARMAN
Desfrute desse gin. Mas com calma.

O homem abana a cabeça afirmativamente com um certo desprezo, sem olhar para o barman.

BARMAN
Olhe, ainda há uns anos um rapaz entrou aqui assim também transpirado, pediu uma coca-cola com gelo e tal foi a pressa que a bebeu que não lhe duraram mais de 2 minutos de vida.

O homem continua a ignorá-lo e empurra o limão para dentro do copo como se o estivesse a afogar.

BARMAN
Mas anime-se senhor! Com este calor você não devia de andar a jogar à bola. Quer dizer, suponho que seja à bola. Esses calções do nosso gloriosos não enganam.

HOMEM
Foi à bola sim.

BARMAN
Pois supus que sim. Mas com este tempo é melhor estar aqui com o ar condicionado a ler um livrinho.

O homem faz um ar surpreendido, incrédulo que um barman leia livros. O Barman mostra-lhe o

livro Caim do Saramago.sermão, entra:

BARMAN
Agora tou a ler o último, infelizmente.

O homem surpreende-se ainda mais pois o Saramago é o seu escritor favorito. No entanto continua a olhar para o copo e a espetar o limão continuamente. O barman começa a limpar os copos e o bar.

HOMEM
É o meu autor favorito... Eu por mim vou nas intermitências da Morte.

BARMAN
Gostei, mas não é dos melhores. Acho que com a morte não se brinca e nunca se sabe o que é que ela nos prepara. Vai na volta, foi isso que aconteceu ao Saramago.

HOMEM
Pois, foi andando para a terra santa. Daqui a nada vou ver como é a Terra do Pecado.

BARMAN
Vai ler esse?

O homem pára de agitar o limão e fica a olhar para ele estupefacto com a burrice de um homem tão supostamente inteligente que lê Saramago.

HOMEM
É, vou... o seu favorito por acaso não é o ensaio sobre a cegueira, não?

BARMAN
É bom. Mas prefiro o Memorial do Convento.

Há um silêncio. O homem está mais agressivo com o limão. O barman observa com mais atenção e começa a perceber as dicas do homem, franzindo as sobrancelhas. Fica um pouco em pânico sem saber se a sua suposição é uma invenção da sua cabeça. Decide jogar o mesmo jogo.

BARMAN
Ouça... por acaso não sabe quando foi o Ano da Morte de... Ricardo Reis?

O homem pára de mexer o limão e decide ir-se embora, começando-se a levantar da cadeira. Bebe um golo grande.

HOMEM
1936, porquê?

BARMAN
Nada, nada...

O barman limpa os copos mais devagar e mais pensativamente.

BARMAN
Mas não está a pensar fazer A viagem do Elefante, não?

O homem percebe que foi apanhado e bebe o copo com golos ainda maiores. O barman aproxima a cara ao homem.

BARMAN
Não vai ter que ser Levantado do Chão pois não?

O homem acaba de beber o copo, levanta-se sem dizer nada e dirige-se para a porta. Barman grita em desespero de quem sabe o que vai acontecer.

BARMAN
Sabe que a Pilar foi fundamental na carreira de Saramago!

O homem pára à porta dirigido para a rua.

BARMAN
Eu posso ser a tua Pilar.

O homem vira-se e olha para o Barman.

domingo, 12 de dezembro de 2010

ENTRE COPOS (exercício CENA)

um (work in progress) trabalho exaustivo do Emanuel Santos

01 – BAR – INTRODUÇÃO

INSERT VISUAL: A cena desenrola-se num bar, género Irish Pub, pequeno onde se percebe que é frequentado (pela decoração (palco com piano, por exemplo)) pela classe média e média-alta, quer para tomar um simples cerveja, quer para beber um cálice de vinho de reserva. O bar tem portas em vidro e tem um pequeno resguardo do lado de fora, onde os clientes se podem abrigar antes de entrarem. É de manhã (por volta das 9horas), chove torrencialmente e está frio. O bar encontra-se com a placa de 'fechado', mas a porta está entreaberta. No bar encontra-se apenas o barman à frente do balcão a varrer o chão/arrumar o bar. O físico do barman dá a entender que tem por volta dos 38-42 anos mas o aspecto (olhos, por ex) dá para perceber que tem/teve uma vida dura cheia de experiências. A música “Helicopter” dos DeerHunter toca em background (ou outra deprimente). Existe uma televisão ligada mas sem som. Por vezes, o barman olha para a TV enquanto arruma/varre.

Aparece a correr um funcionário dos CTT que se abriga da chuva no pequeno hall do bar. Está visivelmente cansado e as mãos tremem. Tem 30 e poucos anos. Tem um pacote/embalagem/encomenda na mão. Fica de costas para a entrada do bar à espera que a chuva passe. O barman, repara no CTT e passado um bocado, aproxima-se dele abrindo um pouco a porta do bar.
BARMAN
…julgo que esta chuva vai demorar a passar.
O CTT dá conta da presença do BARMAN e não deixando de estar de costas para o BARMAN, responde.
CTT
Felizmente, parece-me que sim.
O BARMAN não nota que o CTT diz felizmente em vez de infelizmente.
BARMAN
Entre enquanto espera.
O BARMAN abre a porta toda do bar (que faz barulho) e fica à espera que o CTT entre. O CTT fica imóvel durante uns segundos, suspira e entra a passo lento no bar.
CTT
Obrigado.
O CTT fica parado no meio do bar, como à espera de mais indicações. O BARMAN fecha a porta e encaminha-se para detrás do balcão.
BARMAN
Sente-se. Esteja à vontade. Descanse um pouco.
O CTT senta-se arrastando-se. Coloca a encomenda em cima do balcão.
BARMAN (CONT.)
O dia não está nada famoso.
O CTT olha pela primeira vez para o BARMAN.
O BARMAN repara que o CTT tem as mãos a tremer. O CTT deixa cair o rosto novamente.
BARMAN (CONT.)
Quer um café para aquecer ?
Insiste, por não obter resposta.
BARMAN (CONT.)
Uma cerveja ? Ah, desculpe, está em serviço.
O CTT finalmente responde com uma voz pesada/arrastada.
CTT
Esta é a minha última entrega.
O BARMAN apercebendo-se do estado depressivo do CTT, moda o tom de voz, com a intenção de o animar.
BARMAN
Então já pode e merece beber uma cerveja. Não quer experimentar a cerveja da casa? Faço-a aqui mesmo.
Olha para o CTT (que tem o rosco caído) sem obter resposta. Continua, quebrando o silencio do CTT, tentando fazer novamente conversa.
BARMAN (CONT.)
É escura e pouco lupudada, mas é mais frutada que uma lager.
O CTT levanta novamente a cabeça e olha para o BARMAN por breves instantes e deixa cair novamente o rosto. Dá para entender que o CTT não está muito interessado em saber a história da cerveja. O BARMAN percebe isso, pega em um copo de cerveja e vai em direcção à torneira da sua cerveja. Começa a encher o copo. Continua.
BARMAN (CONT.)
Desculpe.... Sabe, esta cerveja é para mim um sonho tornado realidade. Durante 15 anos trabalhei em Munique. Aprendi a fazer todos os tipos de cerveja. É uma paixão.
O BARMAN acaba de encher o copo de cerveja, coloca-à frente do CTT. O CTT responde de uma forma irritada ao que o BARMAN acabou de dizer.
CTT
Não me fale de sonhos e de paixões.
O CTT pega no copo de cerveja e bebe a cerveja devagar e com os olhos fechados.
BARMAN
Beba devagar. Saboreie. Uma boa cerveja deve ser apreciada como um bom vinho. Devemos respeitar o trabalho e o tempo que a criaram.
Sem abrir os olhos, o CTT pára de beber a cerveja (só bebe parte) e coloca o copo no bar. Dá a entender que saboreou e gostou bastante a cerveja. No final, abre os olhos e olha nos olhos do BARMAN que olhava para o CTT à espera de uma reacção.
BARMAN
Atão, amigo, que se passa ? O dia está do avesso ?

CTT
Se fosse só o dia...
O CTT pega no copo e bebe mais um pouco da cerveja. Novamente com olhos fechados e devagar, de forma a saborear toda a cerveja que bebe. O BARMAN aproveita para o momento arrumar uns copos na prateleira, e vira as costas para o CTT.
BARMAN
Isso... beba. Uma boa cerveja ajuda a esquecer.

CTT
Fazer esquecer não é importante. O importante é que me anestesie.
O BARMAN vira-se rapidamente, e olha para o CTT com alguma preocupação. Deixa os copos por arrumar, e concentra-se no CTT.
BARMAN
Caro... Qual é o seu nome?

CTT
Gonçalves.
O BARMAN tem em conta que o CTT disse não lhe falar sobre os sonhos e paixões. Tenta da forma seguinte, que o CTT comece ele próprio a falar do assunto tão delicado. A meio começa novamente a arrumar os copos que deixou por arrumar – deixa de olhar directamente para o
CTT.
BARMAN
Amigo Gonçalves... Problemas no trabalho? Como o compreendo. Problemas desses levaram-me a deixar a vida em Munique. Há pessoas conseguem desiludir mesmo após tanto anos a trabalhar em conjunto. Imagine caro Gonçalves, que um colega, a quem eu considera já um amigo, foi acusar-me...

O CTT interrompe o BARMAN de forma ríspida.
CTT
Não são problemas desses homem!
O BARMAN responde logo de seguida.
BARMAN
Ok meu caro. Tenha calma. Isto não pode ser só o senhor a falar. Oiça também. (pausa breve)
O CTT acena ligeiramente a cabeça
BARMAN (CONT)
Continuando... não é que o tal meu colega, que eu considerava como amigo - mas amigo de há muitos anos... deixe cá ver...(olha para cima, a pensar)...mais de 10 anos. (pico de entusiasmo) Não! 15 anos! pois eu conheci-o logo quando cheguei a Munique.

O CTT abana a cabeça com ar que está a perder a paciência. Fala novamente de forma ríspida.
CTT
Oh homem, mas afinal o seu colega acusou-o de quê?!
O BARMAN absorve a resposta ríspida sem reagir. Pausa um pouco, olha para o CTT, e aponta para o copo da cerveja.
BARMAN
Beba mais um pouco que isso passa rápido.
O CTT faz, com ar de contrariado, o que o BARMAN que lhe diz dando um pequeníssimo gole na cerveja, quase só molhando os lábios na cerveja. O BARMAN continua a falar de forma descontraída a arrumar os copos e outras coisa.
BARMAN
Não é que o tipo acusou-me de violar as regras de higiene no trabalho só porque não me viu a lavar as mãos depois de sair do WC.
O CTT fica com os olhos esbugalhados (de surpreendido), olha para o copo de cerveja e novamente para o balcão, abanando a cabeça.

BARMAN (CONT)
Ainda me defendi dizendo que o meu pénis era mais limpo que a boca dele, mas por incrível que possa parecer não serviu de nada. Fui obrigado a vir-me embora. Um autêntico desgosto.
O CTT bate com a cabeça no balcão, com alguma força. O BARMAN ouve e vira-se para ele.
BARMAN
Oh Caro Gonçalves, estou a brincar consigo. Você julga que alguém é despedido por causa disso? Se assim fosse não havia ninguém a trabalhar em bares.

CTT
Eu sei lá o que julgar...

BARMAN
Eu quero que salte daí um sorriso.

CTT
Hoje não é dia de sorrir.

BARMAN
Não diga isso. Há sempre motivos para sorrir. Rir é o melhor remédio!
O CTT interessa-se pela primeira vez na conversa, ignorando o que o BARMAN acabou de dizer.
CTT
Mas afinal o seu colega acusou-o de quê?

BARMAN
Acusou-me de desviar 500€ que mais tarde foram encontrados no meu cacifo. Tramou-me.

CTT
Tramou-o bem.

BARMAN
Sabe... nessa altura haviam rumores que iriam haver cortes no pessoal. O receio de ficar desempregado em plena crise, deve tê-lo levado a fazer um disparate daqueles.

CTT
Cada um pensa por si e só em si.

BARMAN
Mas eu já não guardo qualquer ressentimento. Coitado.

CTT
Coitado?

BARMAN
Sim, passado uns meses morreu engasgado. Um mistério.

O CTT estranha e fica com ar pensativo.


cena 02 – BAR - PROBLEMAS

Ambos olham para a televisão. Uma passagem de modelos passa na televisão.
BARMAN
Mas qual é a mulher que vai comprar aquele casaco de inverno com dois buracos à frente. Eu não percebo nada desta moda. Nem sei onde vão encontrar estas mulheres, do tipo palito de lá rene.

CTT
As mulheres são todas umas putas.
O BARMAN fica estupefacto com a resposta do CTT e responde calmamente em tom de “desafio”. À Chico esperto.
BARMAN
Incluindo a sua mãe?

CTT
Não! Está a brincar comigo?! Estou a falar da minha mulher.

BARMAN
Desembuche.
O CTT bebe rapidamente o resto da bebida.

APONTAMENTOS

RESUMO(alguns pontos chave)

Um empregado dos CTT resguarda-se da chuva num bar antes de entregar a sua última encomenda, cujo remetente é a sua mulher e o destinatário o amante da sua mulher. O dono do BAR convida-o a entrar e repara no estado depressivo do CTT. Entre copos, têm uma longa e animada conversa sobre as suas vidas, e as dos que os rodeiam. Ambos falam da sua vida pessoal e fazem critica social. Durante a conversa, o BARMAN percebe que o CTT quer assassinar o amante da sua mulher e suicidar-se. Mais tarde também durante a conversa o CTT apercebe-se que o BARMAN é o amante da sua mulher e pensa em assassiná-lo, mas decide conhece-lo melhor. O BARMAN, sem saber que é o amante da mulher do CTT, tenta mudar as ideias ao CTT e antes de se despedir dele pensa tê-lo conseguido. No entanto, o CTT é atropelado mortalmente (suicida-se) após ter saído do bar “esquecendo-se” da encomenda no bar. Enquanto o BARMAN telefona a pedir ajuda repara que a encomenda era para si. Sente-se culpado pelo que aconteceu ao mesmo tempo que se sente traído pela sua amada, que é tudo menos aquilo que ele pensa. Na encomenda é lhe devolvida uma prenda especial que deu à sua amada juntamente com uma nota a dizer “Esquece-me”.

Ideias/CheckList

1. A mulher é a minha personagem. Durante a conversa poderá haver a sua descrição.
2. A televisão está ligada... poderão haver alguns diálogos relacionados com o que se passa lá (critica social) Numa forma do barman tirar a tensão existente. Tal como as pessoas que possam passar pela janela, telefone, etc...
3. Em vez dos CTT, o homem que entra no bar ser de uma empresa mais de top.
4. O BARMAN só sabe no final que o CTT é o marido da sua amada.
5. A conversa inclui critica social.
6. Por cada golo de cerveja a conversa (pausa) poderá ser usado para o mudar tema de conversa ou introduzir uma nova abordagem do BARMAN para mudar as ideias ao CTT.
7. Usar o espaço exterior (janelas de vidro) para introduzir novos temas de conversa (chuva já parou? Pessoas a passar. O BARMAN pode contar a história de uma delas).
8. No final ou mesmo durante, o CTT poderá pedir uma bebida rasca (ou água da torneira) para tirar (bochecha) o sabor da boca dos vinhos e cervejas que o BARMAN lhe deu, como sinal de desprezo em relação ao BARMAN.
9. A maior paixão do BARMAN, na verdade, é o vinho (o vinho preferido é o Don Melchor de 1990). Mas não tem $$ para ter uma vinha só para ele criar o seu próprio vinho. O seu verdadeiro sonho não o tem, tal como a mulher.
10. O barman junta-se a beber obrigatoriamente com o CTT.
11. O barman nunca diz o seu nome. O CTT diz no inicio porque o BARMAN lhe pergunta. Deve ficar claro para quem ouve o diálogo que não disse o seu. Caso contrario o CTT saberia logo que o BARMAN era o amante da sua mulher.
12. Dar nome ao bar?
13. O CTT vai apanhando pistas que o barman é o destinatário da encomenda, que obrigam quem lê o dialogo a estar atento, de forma a entender como é que o CTT descobriu que o BARMAN era o amante. Mas também formas de confundir essa ideia. Por exemplo: o barman dizer que mora em frente ao bar; a cor dos olhos das respectivas amadas são díspares (o barman é daltónico, e demonstra-o mais tarde ao não distinguir 2 cores diferentes de bebidas).
14. Para sublinhar um momento de tensão, uma pessoa entra no bar e tenta interromper a conversa querendo falar com o BARMAN. O barman demonstra o seu desespero ao maltratar a pessoa que entrou, mandam-a embora, sem a deixar falar.
15. Sublinhar o facto que o CTT (background story) tem uma educação militar e que foi sempre habituado a seguir ordens e a ser um trabalhador modelo (por isso é que foi entregar todas as encomendas primeiro e sobretudo não abriu a encomenda). O barman pergunta-lhe isso mesmo.
16. O CTT descreve a sua mulher quase como perfeita (doce, etc) que o surpreendeu nesta sua atitude estranhando o risco que a mulher assumiu ao enviar a encomenda pela empresa onde o CTT trabalha. No fundo, a mulher, conhecendo o seu marido fez isso tudo de propósito, querendo que os 2 homens morressem. Mas, o seu marido faz só metade da sua vontade, para que ela tivesse esse desgosto, contrariando-a pela primeira vez (o CTT segue sempre as ordens).
17. Utilizar humor durante todo o dialogo. Será possível acrescentar o uso de um modelo de msg de telelé a dizer “Eu também te amo?”.
18. Sublinhar o facto que o barman ao tentar fazer com que o CTT não se suicidasse e matasse o amante da sua mulher, salvou a sua vida, que agora está destruida.
19. Fará mais sentido colocar as personagens mais velhas ???
20. Dar um nome ao CTT e à mulher.
21. O dialogo/cena está repleta de pausas (timing).
22. Falar de aspectos físicos das personagens que ajudem a formar um tema de conversa.
23. Acrescentar – dar a entender que afinal é possível que a 1a versão da história do BARMAN ter sido despedido seja verdadeira – Exemplo: limpa a boca com as mãos (a fazer uma bebida ou a chorar...etc) e releva que se esqueceu de lavar novamente as mãos (porque sabem mal).
24. O diálogo pode não ser contínuo no tempo. Desta forma a conversa poderá ser mais prolongada na realidade (os actores mudavam manualmente o relógio, colocam copos vazios em cima do balcão).

Rascunhos

O BARMAN só nota que é ele o que está a trair, quando o CTT deixa (ele pensa que se esqueceu) dentro do bar. Não o consegue apanhar. Olha o nome na encomenda.... fica pálido... com ar de culpado ... preplexo. ... por momentos fica parado... abre o pacote... em enforia ... vê as 2 garrafas do seu vinho preferido que ofereceu à sua amante. Tem um cartão junto das garrafas a dizer “ACABOU” ou “ESQUECE-ME”. É uma cena que junta muitas emoções em muito pouco tempo. O BARMAN não sabe que a sua amante é casada.

Na parte final, (ideia) o barman vê que o CTT se esqueceu do pacote (o ctt deve mudar a localização do pacote, de em cima da mesa para perto do banco, quando souber que o barman é o amante da sua mulher. Talvez possa haver outro sinal que indique que o CTT sabe que ele é o barman e que o pretende tambem o matar, esconder uma arma (?) trivial... por exemplo o barman utiliza uma faca para cortar qq coisa... ou o ctt pela a faca para fazer qq coisa... e sublinha que ainda pode vir a precisar. (o publico pensa que se quer suicidar...). No final o barman vai atrás do CTT para lhe dar o pacote esquecido. Já não o consegue apanhar. Entra novamente no bar, ouve-se um estrondo,...o barman vai ver e o CTT foi atropelado, suicidando-se (mais uma vez, seguiu as ordens da mulher, pensa ele). O barman volta ao bar a correr e vai ao telefone pedir ajuda. Coloca o pacote em cima do balcão, olha para o destinatário... fica branco... deixa cair o telefone... fica desesperado... decide abrir o pacote... vê as garrafas... vê a mensagem... a cena termina com o drama e com alguém no telefone a perguntar...se precisa de ajuda (112).

Exercício CENA - Rita de La Rochezoire

01/01 - INT. BAR NOITE

Lúcia entra no bar. Esfrega no tapete, os sapatos sujos de lama, enquanto observa três taberneiros que assistem a um jogo de futebol na televisão. Dirige-se, em seguida, até ao balcão e senta-se num banco alto.

LÚCIA
Dê-me um Whisky, por favor.

O barman (visivelmente mais velho) tira de trás de si uma garrafa de whisky e enche menos de metade do seu copo. Lúcia aponta para o topo do copo, como que marcando o limite. O barman despeja mais um pouco.

BARMAN
Desculpe lá…mas o que é que uma jovem, como a menina, faz aqui sozinha a beber uma bebida dessas?

LÚCIA
Dessas? O Whisky era a “Água da Vida” segundo os celtas. Dava-lhes força para as batalhas. E eu estou a ver se resulta comigo.

BARMAN
Está a travar uma batalha, então?

Lúcia responde entre suspiros e com um ar vencido.

LÚCIA
Hm…Quem é que tento enganar? Não, acho que já fui derrotada.

O barman atira, com um gesto bruto, o pano das limpezas para cima do ombro e apoia os dois braços em cima do balcão.

BARMAN
“Depois de procelosa tempestade, nocturna sombra e sibilante vento, traz a manhã serena claridade, esperança de porto e salvamento”…Os Lusíadas. Tínhamos de saber isto de cor, na escola.

LÚCIA
O pior é que esta tempestade parece não acabar. Já não vejo uma aberta no céu há muito tempo. Percebe?

BARMAN
Não diga isso, menina. É demasiado nova para pensar assim. Com a sua idade, os problemas parecem mais graves do que na realidade são.

Lúcia responde com um olhar vazio, fixando o seu copo.

LÚCIA
Dizem que só há uma maneira de ver a luz ao fundo do túnel.

BARMAN
Credo, menina.

O barman retira os braços do balcão, pega no pano e continua as limpezas.

BARMAN
E o seu namorado, onde está?

LÚCIA
Não está. Não tenho.

BARMAN
A melhor amiga?

LÚCIA
Demasiado ocupada.

O barman interrompe a sua tarefa e volta a dar atenção a Lúcia.

BARMAN
Não tem, então, ninguém que a faça sentir melhor? Que lhe dê o que precisa?

LÚCIA
Receio que não.

BARMAN
Todos temos, menina. Há sempre alguém que nos mantém de pé. Alguém que está lá para nós, nos momentos mais difíceis. Sabe que a Pilar foi fundamental na carreira do Saramago?

LÚCIA
Também a Courtney era para o Kurt Cobain e veja o que aconteceu!

BARMAN
Quem?

LÚCIA
Nada. Esqueça.

Faz-se uma pausa. Separados pelo balcão, o barman aproxima-se, até onde pode, de Lúcia.

BARMAN
Menina, siga o conselho de alguém que já cá anda há muito tempo. Vá para casa e durma sobre o assunto. Amanhã já nem se lembra.

Lúcia responde as últimas palavras quase murmuradas.

LÚCIA
Sim, vou fazer isso. Talvez durma para sempre sobre o assunto.

HOMENS
Golo!

Lúcia levanta-se, põe em cima do balcão uma nota de valor superior ao preço da sua bebida e vai-se embora.

BARMAN
O seu troco!

Ignorado, o Barman volta a gritar.

BARMAN
Volte amanhã, que as bebidas serão por conta da casa.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

exercício CENA - Filipa Avillez


INT. BAR NOITE

NOTA: a cena decorre entre planos fechados. Entrada de um sujeito estranho, com um ar melancólico, marreco e arrasta os pés. Pelo abrir da porta vê-se que já é de noite. O bar está vazio só com o Barman que olha para ver quem entra. O barman estava a ler um livro de muitas páginas.

Barman pousa o livro e encara o cliente.
BARMAN
….Boa noite! O que é que vai ser?
Artur, o cliente tem um olhar vago e distante.
ARTUR
Sei lá...

Ar de interrogação total do barman.
BARMAN
Não sabe?!?!? O que quero dizer é em que é posso ajudá-lo?
Artur mantém ar vago. Voz deprimida. Não encara o Barman.
ARTUR
Pois. Exacto. Não sei... Acho que ninguém sabe. Ninguém pode. Nem o senhor, nem ninguém.
Já irritado, Barman questiona-o com uma voz grossa
BARMAN
Ó amigo vai desejar aguma coisa?

Artur encara pela primeira vez o Barman com ar irónico.

ARTUR
VOU! Quem é que não deseja alguma coisa? (sorriso)
Barman sussurra para si próprio.
BARMAN
Bem... Já vi que isto hoje é dia... Só me calham é duques!!! Ó amigo, já vi que isto hoje não está fácil. Vamos por partes. Deseja Comer ou beber alguma coisa?
Artur volta a baixar a cabeça e responde encarando o balcão.

ARTUR
Pois, também não sei. Acho que não. Mas olhe: Obrigada pela sua atenção. Muito simpático da sua parte perguntar ...

Barman engole em seco e revela um ar de preocupação. Decide servir-lhe um sumo e prepara uma sandes.
BARMAN
Ó amigo, comer e beber nunca fez mal a ninguém. Lá isso é uma certeza... hum. E o dia lindo que esteve hoje, reparou? Friozinho, mas um Sol radioso!

Artur sorri, quase sentido pena do Barman.
ARTUR
Sol?!?!? Não. Não reparei. Não me faz falta!
Barman tenta disfarçar a conversa.
BARMAN
E então conte-me lá o que é que tem feito? Eu já saio tarde daqui mas tento, no meu tempo livre, distrair-me.
Artur, já está irritado. Revolta-se com a
Conversa e continua com um tom irónico. Acaba a rir compulsivamente.
ARTUR
Tempo livre??!?!?!? Hum.. deixe-me ver. Eu... farto-me de pensar. Penso que estou farto disto tudo. Penso que não ando aqui a fazer nada, a não ser contribuir para a crise do país heheheh, o que não é propriamente mau. E penso que já não sirvo para nada. Tomo resoluções. Olhe... Boa! São as minhas resoluções para o Ano Novo!

BARMAN
Pois. Certo! Estou a ver. Resoluções de Ano Novo. Já não faço disso...
Artur interrompe bruscamente o Barman.

ARTUR
Pois. Tá bem! E mais?!!? O que é que tem a dizer mais? Que foi ao cinema ultimamente e que aposto... É isso que me vai salvar?!?! E que o melhor que eu tenho a fazer é... Hum Deixe-me ver... Já sei!!!! Aproveitar o melhor da vida!

BARMAN
Sim! Por acaso sim... Adoro cinema. Faz bem à alma. Olhe, ainda ontem fui ver aquele da mulher do Saramago. Muito interessante. Fiquei a perceber que a Pilar foi fundamental na vida de Saramago. Eram assim uma espécie de dupla fantástica!
Artur já incomodado com a conversa levanta-se e agarra na carteira para pagar.
ARTUR
Estou a ver. Saramago? Pilar? E com essa dupla maravilha que acha que me vai salvar o dia? Adoro esta arte de ser Humano. ARROGANTE, PRESUNÇOSO. O amigo acha mesmo que tem esse poder? Ainda por cima... eu detesto o Saramago e não posso com espanhóis. Tenha um resto de boa noite. Se me cruzar com o Saramago mando lembranças suas!

exercício CENA



BAR - NOITE SEXTA-FEIRA

Bar tradicional com bancos ao balcão, 3 mesas ao fundo, Jukebox ao canto e garrafas expostas por trás do Barman.

NOTA: a cena decorre entre planos gerais do Bar e planos aproximados de Belmira e do Barman quando falam.

Belmira entra no Bar com ar deprimido e senta-se ao balcão.


BARMAN
Boa Noite. Então o que vai ser?

BELMIRA
(suspiro) Hoje vou para a tequilla pura e dura. Tequilla com Tequilla por favor. De qualquer das formas o mais provável é não passar mesmo de hoje. Há muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável, gosta de Mão Morta?

BARMAN
Trata-me por tu. Os barman’s são por norma tipos de pouca cultura e um bocado burgessos mas tenho toda a discografia deles. Tenho uma banda da qual sou guitarrista e por acaso uma das nossas grandes referências é o Adolfo Luxúria Canibal. Mas porquê essa desilusão?

BELMIRA
Discuti mais uma vez com o meu Pai. Não me deixa fazer uma viagem sozinha a Barcelona e ameaçou espancar-me com o velho cinto da Mocidade portuguesa. Imagina o que me espera?

BARMAN
E porquê Barcelona?

BELMIRA
Sou Arquitecta, ou melhor, sou uma amostra de Arquitecta e Barcelona é a cidade que mais adoro no Mundo.

BARMAN
Pois, com um Pai assim não deve ser nada fácil. Ainda usa cintos da Mocidade Portuguesa. Que atraso de vida.

BELMIRA
Na estante da nossa sala o “Pela Estrada Fora” do Kerouac está lado a lado com o Mein Kampf. Conheces alguém que partillhe o tecto com um monstro?

BARMAN
Precisas claramente da tal bebida. Just a minute.

O Barman vai preparar a tequilla dupla. Enquanto isso, faz-se um plano geral do bar. Lentamente a câmara aproxima-se de uma jukebox colocada num dos cantos enquanto se ouve uma música de Tindersticks. O Barman volta pouco depois.

BARMAN
Aqui tens. Queres limão?

BELMIRA
Não obrigada. Prefiro assim.

BARMAN
As relações com os velhos são lixadas. Esquece isso.

BELMIRA
Não consigo. Há 26 anos que vivo com um louco que critica tudo o que faço. Não sei como a minha mãe o consegue aturar. Só me apetece ir desta para melhor.

BARMAN
Qual é mesmo o teu nome? O meu é António.

BELMIRA
Belmira.

BARMAN
Estás a precisar de animação. Se quiseres, daqui a pouco quando sair, posso-te levar a um sítio mais descontraído. Que dizes?

BELMIRA
A última coisa que precisava esta noite era de ser assediada por um barman com conversa de padre contemporâneo. Traz-me é outra Tequilla por favor.

Vê-se um grupo de jovens sentadas numa das mesas a cochicharem entre sorrisos libidinosos, enquanto olham para o barman a preparar a bebida. Entretanto, António, volta à companhia de Belmira trazendo mais uma tequilla no tabuleiro.

BARMAN
Padre contemporâneo, nunca me tinham chamado, mas é original. Gosto.

BELMIRA
A tal banda a que pertences não te proporciona encontros amorosos suficientes? Deves ter imensas admiradoras. Já reparei nos olhares que aquelas miúdas te fazem.

BARMAN
Nenhuma delas é tão atraente como tu. Preciso de uma musa inspiradora para as minhas composições. Tal como a Pilar foi fundamental na carreira do Saramago, preciso de alguém que me ilumine a veia criativa.

BELMIRA
Que grande cliché. Gostas de Saramago? E és sempre assim tão oferecido?

BARMAN
Não. Nunca li nada dele. Sou um Barman inculto, lembras-te? Mas li uma entrevista da Pilar e estou mesmo a precisar de um Pilar na minha vida de pseudo-artista.

Rui Filipe Ferreira

exercício CENA

SITUAÇÃO:
UMA PERSONAGEM ENTRA NUM BAR E O BARMAN APERCEBE-SE QUE ESTA SE QUER SUICIDAR

NOTA: Não se pode usar as palavras morte e suicídio e há uma deixa obrigatória “A Pilar foi fundamental na carreira do Saramago”.

O cliente entra no bar e dirige-se lentamente para um dos bancos sentando-se com um olhar vazio.

BARMAN
Boa noite, o que é que vai ser?

CLIENTE
Um whiskey simples, sem gelo.

BARMAN
Aqui tem.

O barman fica a olhar o cliente por uns momentos sem tirar a mão do copo.

CLIENTE
Nunca gostei dos livros dele.

O cliente fala com a cabeça baixa enquanto olha para o copo.

BARMAN
Desculpe?

O barman aproxima-se do balcão enquanto pergunta.

CLIENTE
Nunca gostei dos livros do Saramago. Não se percebem. Você já leu algum?

BARMAN
Do Saramago? Aquele tipo do Nobel?

CLIENTE
Sim esse.

BARMAN
Não, nunca li.

O barman repara que o cliente volta a baixar os olhos e a fitar o copo.

BARMAN
Não é esse que é casado com aquela tipa espanhola mais nova? Há gajos com sorte.

CLIENTE
É. Há gajos com sorte. A Pilar foi fundamental na carreira do Saramago.

BARMAN
Você também escreve?

CLIENTE
Não. Eu leio. Tudo o que faço é ler. Passei toda a vida a ler.

BARMAN
Não percebo... é isso que faz? Pagam-lhe para ler?

CLIENTE
Sim, sou editor. Leio os livros dos outros. Estou farto.

BARMAN
Acho que o percebo. Eu preparo os copos para os outros beberem. Fico a noite toda atrás do balcão a ver os outros beber.

O cliente levanta o rosto e olha o barman nos
olhos por uns instantes.

BARMAN
Já pensou escrever você? Fazer vocês os livros?

CLIENTE
Às vezes mas não sei… não sei se conseguiria.

BARMAN
O que é que você tem a perder? Quem leu tantos livros e conheceu tantos escritores como você conheceu tem de certeza muitas histórias para contar.

O barman avança entusiasmado com as mãos em cima do balcão.

BARMAN
Sabe o que é que eu faço quando fecho o bar às 2 da manhã? Pego em mim e vou ter com os meus amigos que frequentam a concorrência.

CLIENTE
Sim. Tem razão... talvez eu tenha algumas histórias para contar.

Pitta

excelente trabalho da Pitta



#6 descrever em 10/15 linhas uma pessoa real conhecida, desconhecida ou ficcionada


Não sei ao certo que idade terá. Os homens do mar atravessam dias mais longos do que os outros. Dias feitos de muitas noites. Pesa-lhes esse tempo que multiplicam por dois. O Mestre Isauro terá mais de 50 anos a julgar pelos cabelos brancos. Disseram-me que nasceu no Corvo, a mais pequena e distante das ilhas dos Açores. Não sei com que idade terá vindo para o Faial. Conheci-o mais novo e lembro-me de o ver chegar ao centro da cidade montado a cavalo. É um homem alto com os ombros largos e o corpo forte. Tem a cara queimada pelo vento e pelo sol como sempre acontece a quem vive do mar. Os seus olhos, bem cavados no rosto, são daquele tom de azul que tantas vezes encontramos na gente das ilhas. Luminoso. Denso. Húmido. Como se o mar o tivesse ganho antes ainda de nascer. Mas aquilo que mais impressiona no Mestre Isauro são as suas mãos. Ásperas e secas. Grandes como seriam as mãos dos deuses se acaso estes existissem. Inchadas de trabalho. Forradas por uma pele que há muito deixou de ser humana. Repletas de histórias de peixes impossíveis de apanhar. De morte. E de tempo. Muito tempo. Talvez por isso o seu olhar seja tão doce quando fala connosco. Trata-nos com muita delicadeza quase como se fossemos crianças. E quando fala usa poucas palavras. É por isso mesmo que aquilo que diz tem muito mais valor.


#7 reescrita do perfil do personagem depois das dicas dadas na aula


Lado físico: Homem que aparenta ter mais de 50 anos, com os cabelos todos brancos, alto, corpo forte e seco. A pele é seca e queimada e tem os olhos azuis. Tem muitas cicatrizes nas mãos e falta-lhe parte de um dedo da mão direita.

Lado social: É mestre pescador nos Açores, vive com poucos rendimentos, nasceu no Corvo, a ilha mais pequena dos Açores, e é originário de uma família humilde. Chegou a ter uma embarcação com vários homens a seu cargo mas hoje pesca sozinho numa embarcação artesanal e por vezes passa mais de um dia seguido no mar.

Lado psicológico: Trato delicado e doce que contrasta com a dureza da sua profissão, personalidade aberta e generosa, relacionando-se com pessoas de meios sociais, idades e profissões muito diversas, o que contrasta com uma certa timidez, vive só, é divorciado e tem dois filhos com os quais tem muito pouco contacto.


#8 associar uma story line ao perfil do personagem criado

O homem que procurava no fundo do mar aquilo que não conseguiu encontrar dentro de si.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Perfil de Personagem + sinopse



A história de um jovem no inicio dos 20 que foi abandonado pelos pais ainda bebé e que cresce num orfanato. Aos 8 anos uma brincadeira iniciada por ele origina a morte acidental de 3 outros colegas de orfanato. Ele fica com parte do corpo queimado e a cara ligeiramente desfigurada. Mas aquele episódio em vez de deixar um sentimento de tristeza e arrependimento deixa-lhe um sentimento de prazer e satisfação. E este sentimento confuso irá marcá-lo até ao fim da sua vida. É julgado como juvenil e enviado para um reformatório até completar os 18 anos. Nesse reformatório é abusado e agredido por outros jovens delinquentes que o deixam completamente traumatizado e revoltado com o mundo. No reformatório conhece um guarda que simpatiza com ele e o tenta ajudar depois de ele cumprir a pena. Arranja-lhe um quarto para ficar e consegue-lhe um trabalho como auxiliar num hospital. Ele vai tentado levar uma vida normal mas aquele episódio quando tinha 8 anos nunca o deixou de atormentar. Aquele sentimento de prazer e satisfação foi algo que ele nunca tinha sentido antes e que nunca mais tinha voltado a sentir. Seria ele um potencial criminoso? Como iria ele conseguir evitar que este sentimento se apoderasse da sua existência e o transformasse numa pessoa má e violenta. No decorrer da história vemos momentos em que ele tenta aproximar-se de alguém do sexo oposto mas é imediatamente afastado de forma grosseira devido ao seu rosto ligeiramente desfigurado. Esses acontecimentos acabam por voltar a despertar o seu lado selvagem e violento. É então que começa a andar pela noite à procura de alguém em quem descarregar toda aquela violência. Mas ele tenta fazer frente aquele desejo pois sente que não é uma pessoa violenta e maldosa. É então que consegue encontrar no hospital uma medicação que consegue controlar melhor esta necessidade e esta curiosidade pelo violento. Começa a roubar aquela medicação e automedica-se para controlar o seu estado. Mas ele sente que qualquer novo episódio pode precipitar um desfecho diferente e um caminho de volta para a violência. Entretanto conhece uma enfermeira no hospital com quem começa a criar uma boa amizade. Eles começam a conversar durante os turnos no hospital e começam também a sair algumas vezes juntos fora do trabalho. Ele acaba por se apaixonar por ela mas acaba por não ser correspondido pois ela apenas sente amizade por ele. Este momento acaba por despoletar novamente aquele sentimento de revolta e gosto pela violência. É então que, numa das vezes em que rouba o medicamento do hospital, é surpreendido por esta enfermeira. Ela ameaça entregá-lo às autoridades e é então que ele sente necessidade de tomar alguma acção. Ele acaba por agredi-la deixando-a inconsciente. Depois arranja forma de a levar para sua casa onde a mantém prisioneira até decidir o que fazer com ela. Será esta a sua vítima seguinte depois do incidente da sua infância?

Paralelamente a esta história, vimos a história de dois detectives do departamento de homicídios que andam atrás de um serial killer que anda a matar mulheres na casa dos 20 e que vai sempre deixando marcas em todas as suas vítimas. Estas duas histórias são contadas paralelamente de uma forma intercalada. Sempre que vimos o nosso protagonista principal durante a noite à procura de alguém em quem possa descarregar aquele sentimento de revolta, na cena seguinte acompanhamos os dois detectives a processarem mais uma “crime scene”. Desta forma, damos a entender que é o nosso protagonista que anda a matar estas mulheres mas na realidade não é. Os detectives vão analisando as provas dos crimes e acabam por encontrar um possível suspeito. Neste momento, estes detectives dirigem-se à casa do suspeito e esta acção coincide com a altura em que o nosso protagonista mantém refém a enfermeira que ele raptou do hospital. Os detectives forçam a sua entrada na casa do suspeito e encontram este a preparar-se para cometer outro crime e acabam por prendê-lo antes de este o conseguir. Voltamos a acção para o protagonista principal que se encontra ainda a pensar no que fazer com a enfermeira. Ela está amordaçada e ele decide retirar aquilo para poder falar com ela. Ela pergunta-lhe porque razão ele anda a fazer aquilo e porque razão a raptou. Ele explica-lhe que durante a sua infância tinha tido um acto violento que lhe tinha dado um sentimento de satisfação e que o tinha deixado bastante confuso. Neste momento observamos o protagonista principal a mudar de t-shirt e ela pergunta-lhe o que tinha acontecido para ele ter o corpo queimado e é neste momento que acabamos por descobrir que a enfermeira que ele raptou é irmã de um dos colegas de orfanato que ele tinha acidentalmente morto quando tinha 8 anos. Descobrimos que ela também andava no mesmo orfanato e que até eram amigos e brincavam juntos. O nosso personagem vê-se perante a possibilidade de voltar a ter aquele sentimento que tinha tido quando era criança e com alguém que também fez parte dessa fase da sua vida. Esta situação deixa-o ainda mais confuso e sem saber o que fazer. Ela implora que ele não lhe faça mal e que a deixe ir embora mas o nosso protagonista não aceita. Ela tenta explicar-lhe que ele não precisa fazer aquilo, que ele é uma boa pessoa e que tem a oportunidade de se redimir do mal que tinha feito anteriormente. É então que o nosso protagonista percebe que a única forma de deixar de sentir aquele sentimento de revolta e angústia é tirando a própria vida. Ele pega numa arma que tinha conseguido arranjar, observamos ele apontá-la à enfermeira e neste momento afastamos o plano deles e apenas ouvimos o som de um disparo. Quando voltamos a mostrar o plano deles encontramos a enfermeira a chorar e apenas vimos parte do corpo dele deitado no chão e a arma caída ao lado da mão.

Outra alternativa para a história é a seguinte. Em vez de ser uma enfermeira que ele conhece no hospital pode ser um homem da idade dele que acaba por se tornar grande amigo. O resto da acção é a mesma mas no final descobrimos que este amigo dele foi um dos criminosos juvenis que estiveram com ele no reformatório e que o tinha agredido. Neste caso, o nosso protagonista não se suicida mas mata o seu amigo. Nesta situação, o seu acto de violência acaba por ser justificado e até libertador.

Nuno Carrão

Perfil de Personagem

Lúcia

Descrição

A Lúcia tem 24 anos e está no primeiro ano de Mestrado em Ciências da Complexidade. Tem o cabelo arruivado e olhos avelã. A sua silhueta de 1,70m é delicada, fina e a sua pele muito branca. Tem um rosto aguçado, sem imperfeições. Muito feminina. Mas há algo na Lúcia que se torna irritante. É demasiado sensível, diria mesmo lamechas. Falta-lhe um pouco de manhood. Chora a ouvir Diana Krall. A Lúcia é obcecada com um professor seu. Um homem casado, conhecido por dormir com as alunas, ela inclusive. Acredita que um dia ele vai largar tudo por ela. Tenta arranjar, constantemente, semelhanças entre ele e os homens que aos poucos vai conhecendo. Nos aniversários ou datas festivas, faz as suas próprias prendas para oferecer. Tem este lado meio inocente e infantil (no dia dos namorados chegou a oferecer-lhe um “quantos-queres” gigante com frases de amor, o que fez com que ele pusesse termo a essa relação). Quando uma vez em cada dois/três anos, a Lúcia dorme com alguém e, se essa outra pessoa não lhe telefona no dia a seguir, só uma caixa de chocolates e uma comédia romântica poderão confortá-la. A Lúcia, rapidamente, se envolve emocionalmente com as pessoas. Uma vez por mês, organiza uma girls night. Traduzindo significa um jantar em sua casa, só de raparigas, claro, em que se pragueja, durante toda a noite, contra os homens. Não há sequer saída a seguir. A Lúcia tem ainda outro hábito estranho, mais um traço desta sua personalidade melindrosa: dá nomes acabados em “inho” aos pénis dos homens. Quase sempre os seus nomes próprios. Profissionalmente, é muito ambiciosa. Para ela, o trabalho está em primeiro lugar. Quando, finalmente, termina o Mestrado, é-lhe oferecido um cargo na sua faculdade, tornando-se colega do seu ex-professor. Nessa altura, ele já se terá divorciado da mulher, mas será demasiado tarde para a Lúcia voltar a querer uma relação com ele, aliás, com qualquer homem. Ela terá saído do armário e assumido, de vez, a sua homossexualidade.


Principais características:

Físicas

- 24 Anos
- 1,70m
- Cabelo: arruivado
- Olhos: avelã
- Pele: muito branca
- Rosto: aguçado
- Corpo: magro; elegante

Psicológicas

- Sofre de Psicose maníaco-depressiva;
- Homossexual recalcada (que acabará por assumir-se no fim da história);
- Elevado nível de insegurança;
- Muito sensível;
- Crédula e boazinha demais;
- Tendências para o exagero e em acreditar nas próprias fantasias;

Sociais

- Vícios: Tabaco (muito tabaco); chocolate; comédias românticas
- Fã de Diana Krall
- Mantém uma luta árdua pela conquista de um homem casado e seu professor;
- Utiliza, demasiadas vezes, os diminutivos das “palavrinhas”
- Profissionalmente: ambiciosa; trabalhadora
TAGLINE:

- Sair do armário nunca soube tão bem.

STORYLINE:

- Lúcia é aparentemente perfeita: atraente, inteligente, ambiciosa. Mas as aparências iludem. Emocionalmente frágil, Lúcia destrói as suas relações devido à sua insegurança e ingenuidade, até perceber a verdade sobre si própria.

Rita de La Rochezoire

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

PERFIL + backstory + STORYLINE

trabalho exemplar da Ana de São João

PERFIL DA PERSONAGEM:

FÍSICO
- Mulher com 55 anos. Cabelo ralo, castanho acinzentado, corte bob clássico.
- Veste-se de forma antiquada e séria. Cores escuras e discretas.
- Ao Domingo excepcionalmente usa perfume e colar de pérolas para ir à missa.
- Nunca veste roupa branca. Nunca usa calças.

SOCIAL
- Viúva de um homem muito mais velho que acabou de morrer, não tem filhos .
- É auxiliar de educadora de infância talvez para compensar nunca ter tido filhos.
- Mora numa aldeia, e desloca-se de carro para trabalhar à cidade mais próxima, interior do país.
- Católica, vai à missa e ajuda na igreja.
- Popular, na aldeia onde vive, toda a gente a estima. Quando precisam de ajuda vão ter com ela.

PSICOLÓGICO
- tem apenas a 4ª classe mas é muito perspicaz e inteligente
- desembaraçada e com sentido de humor.
- honesta, directa e às vezes um pouco autoritária (talvez por ser educadora de infância).
- modesta, com os pés bem assentes no chão, e um pouco teimosa.
- curiosa e interessada pelo que não conhece.
- trabalhadora e altruísta, sempre viveu em função dos outros.
- pragmática e nada romântica ou idealista (devido à morte do noivo).


BACKSTORY:
- quando tinha 20 anos o noivo morreu de doença grave um mês antes do casamento.
- acabou por se casar com um homem mais velho para não ficar solteira e não dar desgostos aos pais.
- dedicou toda a sua vida às crianças com quem trabalha e ao marido (que nunca lhe deu um filho) até que ele morre.
- Quiseram que se candidatasse a presidente da junta mas ela declinou por achar que não é instruída o suficiente.
- nunca teve filhos mas o problema não era dela era do marido - isto não tem de ser revelado - era do seu conhecimento mas não guardava dele nenhum rancor por isso.
- tratava o marido com muito respeito, como se fosse um pai. Ele gostava muito dela, mais como se fosse uma filha. Era uma relação de camaradagem e não de amor romântico.


STORYLINE:
Quando o mundo à sua roda desaba, as pessoas normais sentam-se num canto a lamentar-se. As pessoas excepcionais levantam-se e fazem-se à estrada.

exercício da metáfora



a) escolher um tema
b) escrever sobre esse tema sem mencioná-lo
c) submeter à apreciação dos colegas


Desassossego e curiosidade exacerbada. Histeria de uma carência insaciada. Produto de um saber escasso. Impulso labiríntico. Doença que não se quer curar. Fome inesperada, rápida ou gradual. Animal selvagem indomável. Avatar inconsciente. Não há censura, nem pudor. Não existem valores, nada importa. Estamos cegos. Não há nada de nobre, nem nada de santo. Sentimento lúcido, involuntário ou abafado. Febre libidinal entusiasmante. Ultrapassa as fronteiras da razão; do racional. Incontrolável. A medida de uma alma é a minha dimensão. Mata-me.

(DESEJO)

Rita de La Rochezoire

STORYLINE

A estória da mulher que falava com a máquina de costura. RUI FERREIRA

sábado, 27 de novembro de 2010

Perfil d'O Anão do Restelo - Joana Galhardas

Características Físicas

1)
≈ 38 Anos de idade
2)
≈ 1,20m de altura
3)
Nanismo pituitário – Membros proporcionais com a estatura
4)
Etnia: Mexicana/Indiana
5)
Rosto pequeno
6)
Nariz saliente
7)
Traços feios e rudes
8)
Corpo franzino
9)
Aumento da Libido – Descontrolada


Características Sociais

1)
Fuma charuto – Como os GRANDES homens
2)
Pouco falador – Comunicação corporal (gestos, olhares, etc.)
3)
Homem predador sexual – Caçador
4)
Típico garanhão da masculinidade hegemónica
5)
Óculos Arnette, no conjunto, dão-lhe um ar cómico


Características Psicológicas

1)
Obsessivo
2)
Ninfomaníaco
3)
Fetichista – Atraído sexualmente por mulheres com mais de 1,60m
4)
Indiscreto
5)
Desinibido
6)
Destemido

Perfil de Personagem (Nuno Carrão)

O David tem 24 anos, é alto, magro e loiro, com o cabelo curto quase rapado e com um corpo ligeiramente atlético. Ele trabalha num hospital como auxiliar e não tem grande sucesso com o sexo oposto pois tem muita falta de auto-confiança e auto-estima derivada à infância conturbada que teve. Ele foi abandonado pelos pais quando ainda era bebé e cresceu num orfanato. Quando tinha 8 anos, uma brincadeira com uns foguetes provocou a morte de um dos colegas de orfanato e este episódio deixou o seu corpo parcialmente queimado. Tem a cara ligeiramente desfigurada e o peito e as costas parcialmente queimados. Este acontecimento marcou-o não pelas suas consequências trágicas mas sim pelo sentimento que despertou nele. Algo que ninguém deve sentir num momento destes. Um sentimento de prazer e satisfação. Todo o seu crescimento foi marcado por aquele sentimento confuso que ele não consegue explicar nem esquecer. Será que deve ser este o seu futuro? Toda a sua vida foi marcada por esta constante batalha para não deixar que este passado violento se apodere da sua existência. Para tentar controlar este sentimento ele automedica-se com algo que rouba do hospital mas mesmo assim ele sente que qualquer novo episódio pode despoletar um futuro que ele quer evitar a todo o custo. Tornar-se violento.

Perfil de Belmira Antunes - Rui Filipe Ferreira


Belmira Antunes tem 25 anos e, como habitual no Portugal do século XXI, vive ainda em casa dos Progenitores. Os Pais de Belmira, especialmente o pai Arnaldo Antunes, são bastante conservadores não tendo por isso Belmira uma vida facilitada. A coisa mais vanguardista que os Pais de Belmira fazem é ver televisão até às onze da noite. Assim, Belmira terminou o curso de arquitectura contra a vontade dos próprios progenitores que tentaram interceder para que estudasse medicina ou advocacia. Para eles, qualquer coisa relacionada com arte representa uma absoluta inutilidade. A única vez que entraram num museu aconteceu porque este era o único ponto de passagem disponível para uma capela que queriam visitar algures no distrito de Braga.

Belmira é uma profunda amante da obra do Arquitecto Catalão, Antoni Gaúdi. Esteve uma vez em Barcelona com o antigo namorado. Viagem que recorda com imensa nostalgia pelas mais inusitadas razões. O então namorado apaixonou-se por uma das empregadas do hotel onde estavam alojados, tendo Belmira regressado sozinha a Lisboa.

Belmira estagia actualmente num atelier de dois arquitectos consagrados que têm por sinal uma relação bastante exaltada entre eles. Por esse motivo, vê-se com frequência no meio das mais bizarras discussões. Uma vez, inclusive, teve de chamar a polícia para serenar os ânimos de um dos patrões que se preparava para afogar o outro numa banheira cheia de tinta roxa. Isto, porque não gostava da cor escolhida pelo sócio para um empreendimento projectado para a Avenida da Liberdade.
Ainda para mais, Belmira é extraordinariamente mal paga, mas como está ainda em início de carreira, à falta de melhor, tem que suportar a presente situação.

Belmira gosta de cinema e de escrita criativa. Relativamente aos amores tem um carácter gélido, talvez derivado à educação rígida que teve. Actualmente, não tem namorado, passando o tempo livre em salas de cinema – gosta particularmente de cinema francês – e a escrever num blogue do qual é mentora, que aludindo ao seu contexto profissional se chama muito justamente: No Atelier da Loucura…

Anónimos Anónimos - sketch de Eliana Sá (turma de humor)

Reunião dos Anónimos Anónimos.
A ambientação é típica de uma reunião dos Alcoólicos Anónimos. No centro de uma sala de escritório ordinária, umas dez cadeiras dispostas em círculo, ao fundo um cartaz com o texto “Anónimos Anóminos”, ao centro um sujeito que anuncia o início de mais uma reunião.
LÍDER
Boa noite. Vamos dar início a mais uma reunião dos Anónimos Anónimos. Quem deseja começar?
Um dos participantes levanta a mão. O líder sinaliza que a mulher pode prosseguir. Ela levanta-se e toma a palavra, timidamente.
LÚCIA
Boa noite, chamo-me Lúcia Costa, sou guionista e hoje não criei nenhuma situação parodiando reuniões de grupos de ajuda anónimos.
Todos os participantes batem palmas. Lúcia enche-se de orgulho.
LÍDER
Muito bem! E ontem?
Lúcia volta a ficar cabisbaixa.
LÚCIA
Estava com os amigas a jogar conversa fora e a determinada altura entra no restaurante a Cinha Jardim e eu disse que ela devia inscrever-se nos Botoxes Anónimos.
Lúcia desata a chorar. Todos abanam as cabeças decepcionados.
O líder volta-se para outro participante.
LÍDER
E você, Carlos, o que nos conta?
Carlos levanta-se muito abatido e fala hesitante.
CARLOS
Ontem eu não escrevi nada parodiando reuniões de anónimos, mas hoje pediram-me para escrever um obituário… e quando dei por mim estava a imaginar uma reunião dos Defuntos Anónimos…
LÍDER
(preocupado)
Mas não botaste isso no papel, pois não?
CARLOS
Não! Eu só pensei! Não escrevi nada!
Outro participante interrompe, pedindo a palavra. O líder sinaliza que sim.
PARTICIPANTE 4
A reunião dos defuntos anónimos podia começar assim: “Meu nome é fulano de tal e hoje eu não morri.”
Um outro participante não resiste e acrescenta:
PARTICIPANTE 5
Ahahahaha, e outro dizia, “eu costumava morrer 8 vezes por dia, foi por isso que eu vim aqui.”
PARTICIPANTE 6
Boa! E aí o Keith Richards aparecia e…
Todos os participantes, com a exceção do líder, embarcam na piada.
O líder enfurece-se.
LÍDER
Parem com isso!!!
Os participantes dão por si e começam a chorar.
LÍDER
A reunião está encerrada. Deixo-vos dois temas para refletirem. Um: não existe cura definitiva. Dois: nos Defuntos Anónimos, no lugar de Keith Richards fica muito melhor a Lili Caneças.

SEXHOTEL de Cláudio Almeida e João Veiga (turma de humor)




























TAKE-AWAY (sketch/auto-paródia: Jorge Geraldo/Rafael Videira - Turma de Humor)

INT. SALA DE FORMAÇÃO HOTEL AMAZÓNIA. NOITE
NUNO E BORGES preparam-se para iniciar mais uma sessão de Escrita de Humor. Os formandos estão sentados e pela primeira vez, estão todos presentes e a horas.

INTERTÍTULO
19h30
NUNO
Boa noite, vamos então iniciar mais esta sessão.
JORGE
(interrompe)
Desculpem lá, vim directo de Coimbra, acham que dá só para ir lá fora comer umas bolachitas?
NUNO
Ok, vamos todos que assim, depois, é tudo de uma assentada.
SAEM TODOS DA SALA.
INTERTÍTULO
19H58
VOLTAM TODOS A ENTRAR NA SALA E OCUPAM OS LUGARES.

BORGES
Ora muito bem, a escrita de sketches vai dominar a sessão de hoje.
RAFAEL
Antes que fique tarde, será que dá para despachar já o jantar e depois trabalhar a sério?
BORGES
Boa ideia. Vou mandar vir umas pizzas para o pessoal.
BORGES PEGA NO TELEFONE E LIGA PARA AS PIZZAS.
INTERTÍTULO
20H10
BORGES
Chegaram as pizzas, ‘bora’ comer.
SAEM TODOS DA SALA.
INTERTÍTULO
21H30
VOLTAM TODOS A ENTRAR NA SALA E A OCUPAR OS LUGARES.

NUNO
Vamos agora falar sobre a punchline.
RUI
O que ia bem agora, era um cafezinho.
NUNO
Boa, vamos todos tomar café.
SAEM TODOS DA SALA NOVAMENTE.
INTERTÍTULO
21H50
VOLTAM TODOS À SALA E SENTAM-SE PELA ÚLTIMA VEZ.

BORGES
(olha para o relógio)
Bem, já são... 21h51, como isto hoje correu bem, vou deixar-vos sair mais cedo, até para a semana.

FIM

Perfil de Personagem (Amílcar Monteiro - turma de humor)

A – Lado Físico

Homem, com cerca de 40 anos de idade, estatura média, magro, olhos castanhos, cabelo castanho comprido, um pouco abaixo dos ombros, com “entradas” de calvície ao nível da testa. Tem normalmente barba por fazer de 1 dia.

Veste-se de forma simples, geralmente com calças de ganga e ténis, t-shirts de cores neutras e um colete também de cor neutra.

O seu andar caracteriza-se por ser apressado, com passos curtos e rápidos, costas muito direitas e ombros ligeiramente flectidos para trás.

Carrega, muitas vezes, ramos de flores variadas.



B – Lado Psicológico

Homossexual, assumido e perfeitamente à vontade com a sua orientação sexual, decidido e confiante, bastante sociável, interagindo com todas as pessoas que conhece do bairro onde vive e trabalha. É alguém que está sempre pronto a ajudar quando lhe solicitam ajuda.

Fala muito alto, para que todos à volta o oiçam, tendo sempre uma resposta pronta para quem se mete com ele. Gosta de se meter e mandar bocas a todos os que conhece, e embora a forma como diz as coisas seja algo agressiva, não o faz com intuito de ofender os outros, mas sim mais com uma finalidade cómica.

É uma pessoa que tem poucos recursos económicos e, como tal, trabalha bastante, andando constatemente de um lado para o outro, em prol da sua profissão e de conseguir dinheiro para subsistir.

Quando se refere a si mesmo fá-lo no género feminino (ex: “Ai, hoje estou cansada”). Usa muitas interjeições do tipo “Ai”, “Oh mulher”, entre outras, características de um dicurso estereotipado de um homem homossexual. Nunca se queixa dos seus problemas, optando por comentar os problemas dos outros, quer a nível do bairro quer a nível social. Quando calado, transparece um ar de confiança e de um pouco de arrogância.



C – Lado Social

É de estatuto socioeconómico baixo, pobre, vivendo num bairro social num apartamento que lhe foi concedido pela câmara. Antes de residir neste bairro social, vivia no Casal Ventoso, à semelhança da maior parte das pessoas que são suas vizinhas. No bairro onde vive, existem muitos traficantes de droga e pessoas agressivas e perigosas, já acontecendo terem sido alvejadas algumas pessoas. Apesar de se poder pensar que a persongagem e os traficantes não se iriam dar bem, uma vez que vivem no mesmo sítio há tanto tempo, os traficantes respeitam-no, mantendo com ele um relacionamento saudável que consiste em mandarem bocas uns aos outros, embora se entreajudem sempre que é necessário.

Prefere relacionar-se com mulheres, da sua faixa etária ou mais velhas, embora se dê bem com toda a gente. Quando interage com os outros, fá-lo de forma cómica, divertindo todos à sua volta com os seus comentários directos e nada subtis.

A sua profissão é ser florista, mais concretamente fazer arranjos de flores para lojas de flores perto do sítio onde reside. Trabalha nos seus arranjos em casa, durante a manhã e início da tarde, sendo que depois se dirige às lojas de flores para as entregar. Durante o dia, faz intervalos para ir ao café do bairro, onde a maior parte da vida social do bairro acontece, e onde interage com todos os seus vizinhos.

Perfil de Personagem (Eliana Sá - Turma de Humor)

Tom Taylor

Tem 62 anos, é um pouco barrigudo e, para além das entradas na testa, ostenta uma vasta cabeleira tingida de preto e avolumada à base de muita mousse e laca.
Foi líder de uma banda heavy metal que dominou as paradas de sucesso mundiais em meados dos anos 70. Como foi famoso em escala planetária nos anos 70, até hoje é bastante conhecido.
Ficou milionário, comprou um castelo e quando cansou da vida de rock star, acabou com a banda. Viveu feliz seus anos de relativo ostracismo, financiados pelos royalties das vendas de discos que, apesar do fim da banda, continuaram de vento em popa.
Contudo, com o advento da internet e da pirataria online, os discos pararam de vender e a fonte secou. Para poder manter seu estilo de vida abastado, Tom Taylor viu-se obrigado a reagrupar a lendária banda e sair em turnê mundial.
O problema é que Tom Taylor já teve a sua cota de sex, drugs & rock’n’roll e não tem mais a mínima paciência para o show business. Tudo o que ele queria era continuar quieto em seu castelo, a levar sua vida de senhor reformado e abastado.
Irrita-o ter de estar permanentemente a viajar, a viver em quartos de hotéis. Já conhece quase todos os países do mundo e não tem a mínima satisfação em revê-los. Detesta ter de estar a dar autógrafos, tem verdadeira hojeriza aos fãs que 40 anos depois continuam a vestir-se com camisolas pretas de motivos satânicos. Despreza o cenário macabro de seus shows, acha que aquilo não passa de um parque temático para gente que gosta de ser do contra. Sente-se ridículo no papel de mestre de cerimônias de um mundo que, mesmo macabro, é não é menos fantasioso que a Disneyland. Odeia ter que voltar a usar o figurino heavy metal. Acha-o piroso, as calças colantes incomodam-no demais, é obrigado a estar em permanente dieta para ficar minimamente decente nelas, sem falar que agora que tem 60 e tal anos, também tem que usar um suspensório testicular sob as tais calças.
Quando pode ser ele mesmo gosta de vestir calças de fato treino confortáveis e prosaicas camisas de malha da Wal-Mart. Ainda assim não é deixado em paz: quem o reconhece na rua costuma comentar, em voz alta, para que ele possa ouvir, como ele anda mal vestido para quem tem tanto dinheiro.
Os cabelos são outro problema. Para seu desgosto, por causa do retorno da banda teve que deixá-los crescer, ele que já estava tão habituado à praticidade dos cabelos curtos. Junto com os anos de mocidade foi-se embora também a paciência, e nada exaspera mais Tom Taylor que passar longas horas sentado a ter seus cabelos preparados antes de cada show. Sem falar no ridículo que é ser meio careca pela frente e meio Sansão por trás.
Os companheiros de banda são igualmente insuportáveis. O baixista, antigo amigo da adolescência, na verdade jamais saiu da adolescência e está nas nuvens com o revival da banda e dos velhos tempos de glamour. A alegria dele faz o estômago de Tom Taylos dar voltas. O guitarrista está com os neurónios tão gratinados por anos e anos de consumo de drogas que não se apercebe de quase nada do que acontece ao seu redor. Vive num universo paralelo que é só seu. O baterista original morreu de overdose nos anos 80 e a cada show um baterista novo ocupa o seu lugar, pois Tom Taylor dá sempre um jeito de arrumar uma briga com cada baterista que aparece.
O empresário da banda é o mesmo de sempre e está mais ganancioso do que nunca. Está sempre a inventar novas turnês, novas entrevistas, novos factóides, tudo que possa render mais dinheiro. Volta e meia apresenta a Tom Taylor um projeto de reality show para ele estrelar, cada um mais estapafúrdio do que o outro, o que leva o contrariado rock star à loucura.
Tom Taylor despreza a fama mas muitas vezes fraqueja e usa-a para benefício próprio. Nestas ocasiões, quando não é pego em contradição, é acometido por crises de consciência.
A tragédia de Tom Taylor é que ele tem perfeita consciência de que o tempo passou, ele envelheceu e há muito tempo deixou de ser a pessoa que o público e os media ainda insistem em ver nele. A comédia de Tom Taylor é que ele não perde uma oportunidade para destilar seu sarcasmo contra um star-system com o qual muitas pessoas sonham mas que ele, que o conhece de dentro, despreza.
Acima de tudo, Tom Taylor odeia a si próprio por não conseguir mandar o dinheiro às favas e deixar de desempenhar este papel no qual não se sente mais confortável. Sem o revival da banda, não haveria como sustentar o castelo, os hábitos de consumo da mulher 30 anos mais nova, as exigências dos filhos mimados e disfuncionais e a sua coleção de cravos renascentistas.
Tom Taylor, um velho rabugento travestido de ídolo rock.

Físico: Velho, barrigudinho, meio careca na frente e cabeludo atrás, roupas heavy-metal inadequadas para a sua idade e porte físico.
Social: Idolatrado por um determinado nicho social, adulado pelos que o rodeiam, vigiado pelos media.
Psicológico: Sente-se desajustado à imagem que as pessoas têm dele e àquilo que esperam que ele seja.