domingo, 12 de dezembro de 2010

ENTRE COPOS (exercício CENA)

um (work in progress) trabalho exaustivo do Emanuel Santos

01 – BAR – INTRODUÇÃO

INSERT VISUAL: A cena desenrola-se num bar, género Irish Pub, pequeno onde se percebe que é frequentado (pela decoração (palco com piano, por exemplo)) pela classe média e média-alta, quer para tomar um simples cerveja, quer para beber um cálice de vinho de reserva. O bar tem portas em vidro e tem um pequeno resguardo do lado de fora, onde os clientes se podem abrigar antes de entrarem. É de manhã (por volta das 9horas), chove torrencialmente e está frio. O bar encontra-se com a placa de 'fechado', mas a porta está entreaberta. No bar encontra-se apenas o barman à frente do balcão a varrer o chão/arrumar o bar. O físico do barman dá a entender que tem por volta dos 38-42 anos mas o aspecto (olhos, por ex) dá para perceber que tem/teve uma vida dura cheia de experiências. A música “Helicopter” dos DeerHunter toca em background (ou outra deprimente). Existe uma televisão ligada mas sem som. Por vezes, o barman olha para a TV enquanto arruma/varre.

Aparece a correr um funcionário dos CTT que se abriga da chuva no pequeno hall do bar. Está visivelmente cansado e as mãos tremem. Tem 30 e poucos anos. Tem um pacote/embalagem/encomenda na mão. Fica de costas para a entrada do bar à espera que a chuva passe. O barman, repara no CTT e passado um bocado, aproxima-se dele abrindo um pouco a porta do bar.
BARMAN
…julgo que esta chuva vai demorar a passar.
O CTT dá conta da presença do BARMAN e não deixando de estar de costas para o BARMAN, responde.
CTT
Felizmente, parece-me que sim.
O BARMAN não nota que o CTT diz felizmente em vez de infelizmente.
BARMAN
Entre enquanto espera.
O BARMAN abre a porta toda do bar (que faz barulho) e fica à espera que o CTT entre. O CTT fica imóvel durante uns segundos, suspira e entra a passo lento no bar.
CTT
Obrigado.
O CTT fica parado no meio do bar, como à espera de mais indicações. O BARMAN fecha a porta e encaminha-se para detrás do balcão.
BARMAN
Sente-se. Esteja à vontade. Descanse um pouco.
O CTT senta-se arrastando-se. Coloca a encomenda em cima do balcão.
BARMAN (CONT.)
O dia não está nada famoso.
O CTT olha pela primeira vez para o BARMAN.
O BARMAN repara que o CTT tem as mãos a tremer. O CTT deixa cair o rosto novamente.
BARMAN (CONT.)
Quer um café para aquecer ?
Insiste, por não obter resposta.
BARMAN (CONT.)
Uma cerveja ? Ah, desculpe, está em serviço.
O CTT finalmente responde com uma voz pesada/arrastada.
CTT
Esta é a minha última entrega.
O BARMAN apercebendo-se do estado depressivo do CTT, moda o tom de voz, com a intenção de o animar.
BARMAN
Então já pode e merece beber uma cerveja. Não quer experimentar a cerveja da casa? Faço-a aqui mesmo.
Olha para o CTT (que tem o rosco caído) sem obter resposta. Continua, quebrando o silencio do CTT, tentando fazer novamente conversa.
BARMAN (CONT.)
É escura e pouco lupudada, mas é mais frutada que uma lager.
O CTT levanta novamente a cabeça e olha para o BARMAN por breves instantes e deixa cair novamente o rosto. Dá para entender que o CTT não está muito interessado em saber a história da cerveja. O BARMAN percebe isso, pega em um copo de cerveja e vai em direcção à torneira da sua cerveja. Começa a encher o copo. Continua.
BARMAN (CONT.)
Desculpe.... Sabe, esta cerveja é para mim um sonho tornado realidade. Durante 15 anos trabalhei em Munique. Aprendi a fazer todos os tipos de cerveja. É uma paixão.
O BARMAN acaba de encher o copo de cerveja, coloca-à frente do CTT. O CTT responde de uma forma irritada ao que o BARMAN acabou de dizer.
CTT
Não me fale de sonhos e de paixões.
O CTT pega no copo de cerveja e bebe a cerveja devagar e com os olhos fechados.
BARMAN
Beba devagar. Saboreie. Uma boa cerveja deve ser apreciada como um bom vinho. Devemos respeitar o trabalho e o tempo que a criaram.
Sem abrir os olhos, o CTT pára de beber a cerveja (só bebe parte) e coloca o copo no bar. Dá a entender que saboreou e gostou bastante a cerveja. No final, abre os olhos e olha nos olhos do BARMAN que olhava para o CTT à espera de uma reacção.
BARMAN
Atão, amigo, que se passa ? O dia está do avesso ?

CTT
Se fosse só o dia...
O CTT pega no copo e bebe mais um pouco da cerveja. Novamente com olhos fechados e devagar, de forma a saborear toda a cerveja que bebe. O BARMAN aproveita para o momento arrumar uns copos na prateleira, e vira as costas para o CTT.
BARMAN
Isso... beba. Uma boa cerveja ajuda a esquecer.

CTT
Fazer esquecer não é importante. O importante é que me anestesie.
O BARMAN vira-se rapidamente, e olha para o CTT com alguma preocupação. Deixa os copos por arrumar, e concentra-se no CTT.
BARMAN
Caro... Qual é o seu nome?

CTT
Gonçalves.
O BARMAN tem em conta que o CTT disse não lhe falar sobre os sonhos e paixões. Tenta da forma seguinte, que o CTT comece ele próprio a falar do assunto tão delicado. A meio começa novamente a arrumar os copos que deixou por arrumar – deixa de olhar directamente para o
CTT.
BARMAN
Amigo Gonçalves... Problemas no trabalho? Como o compreendo. Problemas desses levaram-me a deixar a vida em Munique. Há pessoas conseguem desiludir mesmo após tanto anos a trabalhar em conjunto. Imagine caro Gonçalves, que um colega, a quem eu considera já um amigo, foi acusar-me...

O CTT interrompe o BARMAN de forma ríspida.
CTT
Não são problemas desses homem!
O BARMAN responde logo de seguida.
BARMAN
Ok meu caro. Tenha calma. Isto não pode ser só o senhor a falar. Oiça também. (pausa breve)
O CTT acena ligeiramente a cabeça
BARMAN (CONT)
Continuando... não é que o tal meu colega, que eu considerava como amigo - mas amigo de há muitos anos... deixe cá ver...(olha para cima, a pensar)...mais de 10 anos. (pico de entusiasmo) Não! 15 anos! pois eu conheci-o logo quando cheguei a Munique.

O CTT abana a cabeça com ar que está a perder a paciência. Fala novamente de forma ríspida.
CTT
Oh homem, mas afinal o seu colega acusou-o de quê?!
O BARMAN absorve a resposta ríspida sem reagir. Pausa um pouco, olha para o CTT, e aponta para o copo da cerveja.
BARMAN
Beba mais um pouco que isso passa rápido.
O CTT faz, com ar de contrariado, o que o BARMAN que lhe diz dando um pequeníssimo gole na cerveja, quase só molhando os lábios na cerveja. O BARMAN continua a falar de forma descontraída a arrumar os copos e outras coisa.
BARMAN
Não é que o tipo acusou-me de violar as regras de higiene no trabalho só porque não me viu a lavar as mãos depois de sair do WC.
O CTT fica com os olhos esbugalhados (de surpreendido), olha para o copo de cerveja e novamente para o balcão, abanando a cabeça.

BARMAN (CONT)
Ainda me defendi dizendo que o meu pénis era mais limpo que a boca dele, mas por incrível que possa parecer não serviu de nada. Fui obrigado a vir-me embora. Um autêntico desgosto.
O CTT bate com a cabeça no balcão, com alguma força. O BARMAN ouve e vira-se para ele.
BARMAN
Oh Caro Gonçalves, estou a brincar consigo. Você julga que alguém é despedido por causa disso? Se assim fosse não havia ninguém a trabalhar em bares.

CTT
Eu sei lá o que julgar...

BARMAN
Eu quero que salte daí um sorriso.

CTT
Hoje não é dia de sorrir.

BARMAN
Não diga isso. Há sempre motivos para sorrir. Rir é o melhor remédio!
O CTT interessa-se pela primeira vez na conversa, ignorando o que o BARMAN acabou de dizer.
CTT
Mas afinal o seu colega acusou-o de quê?

BARMAN
Acusou-me de desviar 500€ que mais tarde foram encontrados no meu cacifo. Tramou-me.

CTT
Tramou-o bem.

BARMAN
Sabe... nessa altura haviam rumores que iriam haver cortes no pessoal. O receio de ficar desempregado em plena crise, deve tê-lo levado a fazer um disparate daqueles.

CTT
Cada um pensa por si e só em si.

BARMAN
Mas eu já não guardo qualquer ressentimento. Coitado.

CTT
Coitado?

BARMAN
Sim, passado uns meses morreu engasgado. Um mistério.

O CTT estranha e fica com ar pensativo.


cena 02 – BAR - PROBLEMAS

Ambos olham para a televisão. Uma passagem de modelos passa na televisão.
BARMAN
Mas qual é a mulher que vai comprar aquele casaco de inverno com dois buracos à frente. Eu não percebo nada desta moda. Nem sei onde vão encontrar estas mulheres, do tipo palito de lá rene.

CTT
As mulheres são todas umas putas.
O BARMAN fica estupefacto com a resposta do CTT e responde calmamente em tom de “desafio”. À Chico esperto.
BARMAN
Incluindo a sua mãe?

CTT
Não! Está a brincar comigo?! Estou a falar da minha mulher.

BARMAN
Desembuche.
O CTT bebe rapidamente o resto da bebida.

APONTAMENTOS

RESUMO(alguns pontos chave)

Um empregado dos CTT resguarda-se da chuva num bar antes de entregar a sua última encomenda, cujo remetente é a sua mulher e o destinatário o amante da sua mulher. O dono do BAR convida-o a entrar e repara no estado depressivo do CTT. Entre copos, têm uma longa e animada conversa sobre as suas vidas, e as dos que os rodeiam. Ambos falam da sua vida pessoal e fazem critica social. Durante a conversa, o BARMAN percebe que o CTT quer assassinar o amante da sua mulher e suicidar-se. Mais tarde também durante a conversa o CTT apercebe-se que o BARMAN é o amante da sua mulher e pensa em assassiná-lo, mas decide conhece-lo melhor. O BARMAN, sem saber que é o amante da mulher do CTT, tenta mudar as ideias ao CTT e antes de se despedir dele pensa tê-lo conseguido. No entanto, o CTT é atropelado mortalmente (suicida-se) após ter saído do bar “esquecendo-se” da encomenda no bar. Enquanto o BARMAN telefona a pedir ajuda repara que a encomenda era para si. Sente-se culpado pelo que aconteceu ao mesmo tempo que se sente traído pela sua amada, que é tudo menos aquilo que ele pensa. Na encomenda é lhe devolvida uma prenda especial que deu à sua amada juntamente com uma nota a dizer “Esquece-me”.

Ideias/CheckList

1. A mulher é a minha personagem. Durante a conversa poderá haver a sua descrição.
2. A televisão está ligada... poderão haver alguns diálogos relacionados com o que se passa lá (critica social) Numa forma do barman tirar a tensão existente. Tal como as pessoas que possam passar pela janela, telefone, etc...
3. Em vez dos CTT, o homem que entra no bar ser de uma empresa mais de top.
4. O BARMAN só sabe no final que o CTT é o marido da sua amada.
5. A conversa inclui critica social.
6. Por cada golo de cerveja a conversa (pausa) poderá ser usado para o mudar tema de conversa ou introduzir uma nova abordagem do BARMAN para mudar as ideias ao CTT.
7. Usar o espaço exterior (janelas de vidro) para introduzir novos temas de conversa (chuva já parou? Pessoas a passar. O BARMAN pode contar a história de uma delas).
8. No final ou mesmo durante, o CTT poderá pedir uma bebida rasca (ou água da torneira) para tirar (bochecha) o sabor da boca dos vinhos e cervejas que o BARMAN lhe deu, como sinal de desprezo em relação ao BARMAN.
9. A maior paixão do BARMAN, na verdade, é o vinho (o vinho preferido é o Don Melchor de 1990). Mas não tem $$ para ter uma vinha só para ele criar o seu próprio vinho. O seu verdadeiro sonho não o tem, tal como a mulher.
10. O barman junta-se a beber obrigatoriamente com o CTT.
11. O barman nunca diz o seu nome. O CTT diz no inicio porque o BARMAN lhe pergunta. Deve ficar claro para quem ouve o diálogo que não disse o seu. Caso contrario o CTT saberia logo que o BARMAN era o amante da sua mulher.
12. Dar nome ao bar?
13. O CTT vai apanhando pistas que o barman é o destinatário da encomenda, que obrigam quem lê o dialogo a estar atento, de forma a entender como é que o CTT descobriu que o BARMAN era o amante. Mas também formas de confundir essa ideia. Por exemplo: o barman dizer que mora em frente ao bar; a cor dos olhos das respectivas amadas são díspares (o barman é daltónico, e demonstra-o mais tarde ao não distinguir 2 cores diferentes de bebidas).
14. Para sublinhar um momento de tensão, uma pessoa entra no bar e tenta interromper a conversa querendo falar com o BARMAN. O barman demonstra o seu desespero ao maltratar a pessoa que entrou, mandam-a embora, sem a deixar falar.
15. Sublinhar o facto que o CTT (background story) tem uma educação militar e que foi sempre habituado a seguir ordens e a ser um trabalhador modelo (por isso é que foi entregar todas as encomendas primeiro e sobretudo não abriu a encomenda). O barman pergunta-lhe isso mesmo.
16. O CTT descreve a sua mulher quase como perfeita (doce, etc) que o surpreendeu nesta sua atitude estranhando o risco que a mulher assumiu ao enviar a encomenda pela empresa onde o CTT trabalha. No fundo, a mulher, conhecendo o seu marido fez isso tudo de propósito, querendo que os 2 homens morressem. Mas, o seu marido faz só metade da sua vontade, para que ela tivesse esse desgosto, contrariando-a pela primeira vez (o CTT segue sempre as ordens).
17. Utilizar humor durante todo o dialogo. Será possível acrescentar o uso de um modelo de msg de telelé a dizer “Eu também te amo?”.
18. Sublinhar o facto que o barman ao tentar fazer com que o CTT não se suicidasse e matasse o amante da sua mulher, salvou a sua vida, que agora está destruida.
19. Fará mais sentido colocar as personagens mais velhas ???
20. Dar um nome ao CTT e à mulher.
21. O dialogo/cena está repleta de pausas (timing).
22. Falar de aspectos físicos das personagens que ajudem a formar um tema de conversa.
23. Acrescentar – dar a entender que afinal é possível que a 1a versão da história do BARMAN ter sido despedido seja verdadeira – Exemplo: limpa a boca com as mãos (a fazer uma bebida ou a chorar...etc) e releva que se esqueceu de lavar novamente as mãos (porque sabem mal).
24. O diálogo pode não ser contínuo no tempo. Desta forma a conversa poderá ser mais prolongada na realidade (os actores mudavam manualmente o relógio, colocam copos vazios em cima do balcão).

Rascunhos

O BARMAN só nota que é ele o que está a trair, quando o CTT deixa (ele pensa que se esqueceu) dentro do bar. Não o consegue apanhar. Olha o nome na encomenda.... fica pálido... com ar de culpado ... preplexo. ... por momentos fica parado... abre o pacote... em enforia ... vê as 2 garrafas do seu vinho preferido que ofereceu à sua amante. Tem um cartão junto das garrafas a dizer “ACABOU” ou “ESQUECE-ME”. É uma cena que junta muitas emoções em muito pouco tempo. O BARMAN não sabe que a sua amante é casada.

Na parte final, (ideia) o barman vê que o CTT se esqueceu do pacote (o ctt deve mudar a localização do pacote, de em cima da mesa para perto do banco, quando souber que o barman é o amante da sua mulher. Talvez possa haver outro sinal que indique que o CTT sabe que ele é o barman e que o pretende tambem o matar, esconder uma arma (?) trivial... por exemplo o barman utiliza uma faca para cortar qq coisa... ou o ctt pela a faca para fazer qq coisa... e sublinha que ainda pode vir a precisar. (o publico pensa que se quer suicidar...). No final o barman vai atrás do CTT para lhe dar o pacote esquecido. Já não o consegue apanhar. Entra novamente no bar, ouve-se um estrondo,...o barman vai ver e o CTT foi atropelado, suicidando-se (mais uma vez, seguiu as ordens da mulher, pensa ele). O barman volta ao bar a correr e vai ao telefone pedir ajuda. Coloca o pacote em cima do balcão, olha para o destinatário... fica branco... deixa cair o telefone... fica desesperado... decide abrir o pacote... vê as garrafas... vê a mensagem... a cena termina com o drama e com alguém no telefone a perguntar...se precisa de ajuda (112).

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