sexta-feira, 15 de outubro de 2010

exercício das palavras obrigatórias

almoço
ideia
estribo
esfola
sulipampa
Detesto o processo de associação mental. Detesto-o pelo engodo. Não é um processo, mas um mero acontecimento. Nada se sucede. Esgota-se, consome-se de imediato. Não começa, medeia ou acaba. Os três conglobam-se.
Quando se pergunta a cinco pessoas qual é a primeira palavra que lhes vem à cabeça, elas nunca lhe dirão qual a primeira palavra que lhes veio à cabeça. A minha seria impronunciável na presença de senhoras. Não posso, por isso, deixar de questionar o que levou os meus colegas à adopção daquelas palavras. De facto, não serão as primeiras em que se pensou, mas as primeiras que se quis dizer.
Sulipampa é fácil. Trata-se de um convite ao devaneio, uma mostra de criatividade. No entanto, não me excita. É como um gajo andar a fazer triplo salto com o Nélson Évora e aterrar já no tartan. Vê-se logo que houve doping.
O almoço é biológico. É sugestivo da fome do interlocutor. O almoço é a razão porque Pavlov poderia, no fundo, ter utilizado humanos nas suas experiências sem ofensa de grandes declarações universais de direitos.
A ideia é boa. É imediata, é um bom scapegoat literário. Safava-me se estivesse a escrever um texto sério. Depois, é uma resposta genuína. “Qual é a primeira ideia que te vem à cabeça?” “Ideia”. Um gajo processa e dispara. Zero interferência. Um perigo na presença de mulheres.
Estribo transcende-me. Hipismo? Provável, mas incerto. Sadomasoquismo? O colega é demasiado novo. Substantivo invulgar e difícil de enquadrar para lavar os velhinhos do curso? Só pode ser. Eu sabia que aquela t-shirt significava problemas.
Esfola. É um elemento de acção. Um verbo transitivo. Há a possibilidade de introduzir uma morte violenta na história. Gostei. E tudo com a sugestão de “es” do estribo.
Na verdade, adoro associação mental. Detesto o que me faz.

Pedro Fontes

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