sábado, 16 de outubro de 2010

algemas


exercício do objecto em discurso directo

- Nunca pensei passar por isto, fogo. Imaginem-me esta merda - enfeitarem-me com um pêlo preto, macio e delicado. Ó caroço. Fónix, isto é de gaja, pá! Lá porque o meu nome é “Algemas” eu sou muita macho, ouviram! Tsss… isto é uma humilhação do caneco. E o pior é que os outros fiquem a duvidar da minha masculinidade hã?! Dass…
Vocês sabem por acaso qual é a sensação de amarrar e tirar os movimentos a um gajo que acabou de matar um polícia?! O sabor do sangue do animal a escorrer-lhe pelos pulsos apenas porque se quer livrar de mim mas não consegue e por isso lhe rasgo a pele? É delicioso! E agora, fazem-me isto: metem-me pêlo, vejam bem. Estou enojado e atormentado até às entranhas. Já imaginaram os lindos nomes que me vão chamar lá na esquadra? Parece-me já estar a ouvi-los com bocas tipo: “bichona; rabicho; és linda macia e cheirosinha; deixa-me roçar-me no teu pêlo…” Oh cum caneco.
Mas, deixem ‘tar que não perdem pela demora: deixem que agora vou ser eu a dar-lhes a volta – amanhã falo com a minha amiga Leona e juro que ela me ajuda a amarrar o idiota que teve a ideia peludenta. A caminha de serviço lá da esquadra serve bem e, boazona e astuta como ela é, num piscar de olhos… ahahah, já estou a vê-lo tudo nu, comigo a acariciar-lhe os pulsos enquanto ele tenta chegar à roupa. E juro que vai buscá-las ao lixo dos restos da cozinha! Quem ri por último ri melhor e vai ser de certeza o polícia do ano. Dou-lhe direito a prémio de honra e tudo: nu, amarrado e subserviente.
Coitado, ainda não fiz nada e já ‘tou com pena do gajo. Pensando bem… e não serão quase todos assim?

Alda Silvestre

Sem comentários:

Enviar um comentário