sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A Bela Adormecida

neste exercício todos os textos teriam de começar pela frase: 'Posso dizer uma coisa fora de contexto?' e não incluir de modo algum a palavrinha maldita 'QUE'
Posso dizer uma coisa fora de contexto? Afinal a Bela Adormecida esteve em coma. Diz a voz popular de outro tempo, na aldeia Conde das Barbas, ter existido uma jovem e bonita moça de nome Adelaide, conhecida por Belita. Esta era esguia, de pele morena e detentora de um olhar profundo. Um conceito de beleza invulgar, dada a época. Dava nas vistas, não só por ser estranhamente bela mas por ser diferente de todas as mulheres da aldeia. Ali, em Conde das Barbas, todos possuíam uma farta barba: homens, mulheres e crianças. Uma espécie de código genético único daquela gente.
Belita, ou Adelaide se quiserem, não possuía tamanha característica e já em pequena era gozada pelas crianças. Posta de fora da sua sociedade, nunca namoriscou ou participou nos mais variados momentos colectivos da sua aldeia. Era, recorrentemente, vítima de calúnias, injúrias, mal dizeres e muitas vezes surgiam cantigas ou poemas em sua “homenagem”. Viveu assim, sempre à margem dos outros
Certa manhã, cansada de ser alvo de piadas maliciosas e escabrosas, decidiu pôr um termo à situação. Remexeu num baú velho, encontrou um novelo de lã castanho e teceu uma bela e vigorosa barba. Desta vez iria mudar o rumo da sua vida pois a barba ali era um sinal de dignidade e sinónimo de pertença genuína ao local.
Nessa noite foi feito um grande banquete pago pela Junta de Freguesia. Todos celebraram e todos beberam vinho até caírem para o lado. Foi uma noite feliz para todos. Porém, uma doença fatal foi esquecida, sofria de alergia a ácaros em 1º grau. Bêbeda, desmaiada e um pouco sufocada pela barba de lã, Belita começou por entrar num profundo coma e nunca mais acordou.
Esta é a verdadeira estória alegórica da Bela Adormecida.
Joana Galhardas

Sem comentários:

Enviar um comentário